segunda-feira, 26 de março de 2012

Os males da educação

     Aprendi, naturalmente, a valorizar o trabalho dos professores em geral, das escolas públicas em especial. Acompanhei, bem de perto, o trabalho de um deles, minha mulher, ao longo de 25 anos em escolas municipais do Rio de Janeiro, quase todas em bairros carentes. Em uma delas, um menino de 13 anos a ameaçou com um canivete. Em outra, grupos de jovens da vizinhança invadiam o pátio e desafiavam professores e funcionários. São apenas dois casos em uma dezena.
     Material escolar? Perdi a conta de quantas resmas de papel conseguimos para distribuir entre as crianças. Brindes, lembranças no Dia das Crianças, passeios educacionais conseguidos graças à boa vontade de alguma empresa de ônibus (e a algum prestígio pessoal, é verdade).
     Onde estavam, nesses momentos, os responsáveis não pelas crianças, mas pelo Estado, entendendo-se Estado como o conjunto das instâncias administrativas? Acomodados, como continuam até hoje, fingindo que investem em educação.
     Entendo, claramente, o resultado da pesquisa realizada pelo Movimento Todos pela Educação, publicada com o destaque merecido por O Globo. Os 88% que indicaram a falta de apoio dos pais como a principal causa do baixo rendimento dos alunos não estavam - como pode parecer a princípio, e assim foi interpretado por algumas pessoas - apontando um dedo acusatório.

     Houve, apenas e tão-somente, uma constatação. Nossa educação fundamental é oferecida em escolas mal-equipadas a alunos cuja família tem baixos escolaridade e nível cultural. E isso é uma realidade indesmentível.
     Os pais, não por incúria, mas por indigência cultural, falta de formação, de tempo e de recursos, não dão o necessário suporte às atividades escolares. O trabalho desenvolvido nas salas de aula, sob as mais perversas condições, se dilui. As crianças, mal orientadas e sem paradigmas, ficam pelo caminho, candidatas certas a criarem novas gerações à sua semelhança.
     Esse é, para mim, o grande alerta que surgiu na pesquisa. Os professores não estão se omitindo ou desculpando pelos resultados. Estão, sim, apontando o dedo para a maior ferida da nossa sociedade: a falta de investimentos na base social.
     Comentários como o de um 'especialista em educação', também publicado em O Globo - argumentando que um médico não pode por a culpa no paciente, por não curá-lo - são demagógicos e tendem a mascarar o grande vilão: o poder público.

2 comentários:

  1. Oi Marco,
    sem querer livrar a cara do governo - o atual ou os anteriores - acho que o grande vilão da calamitosa situação da educação pública é a sociedade civil. Nós, cidadãos, durante três décadas assistimos inrmes o sucateamento das escolas públicas e a desvalorização do professorado, por sucessivos governos. Esse processo começou nos anos 70 e não fizemos nada. LImitamo-nos, os que podiam, a transferir filhos e netos para escolas particulares. Só tomamos alguma vergonha na cara de uns 10 anos para cá. Coube à sociedade civil organizada fazer passar a lei que destina um percentual mínimo do orçamento para a educação e algumas políticas publicas foram implantadas também por pressão da cidanania. Mas educação demora a resultado, como bem sabemos. Os pais que, hoje, estão incapacitados de estimular os filhos têm mais de 10 anos de idade. São vítimas da nossa cegueira e silêncio de três décadas.

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  2. Você também tem razão, Terezinha. Eu assisti e vivi os dois lados. Vi as dificuldades que minha mulher tinha para obter resultados, apesar da enorme dedicação. E tive duas filhas em escolas particulares, ao contrário de mim mesmo, que sempre estudei em instituições públicas. Os professores da 'minha época' não eram muito diferentes dos atuais, mas ainda não havia o sucateamento do ensino, como você também lembrou, muito bem. E nós somos culpados, sim, por omissão.

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