sexta-feira, 16 de março de 2012

O Vasco, em primeiro lugar

     Evito escrever sobre o dia a dia do futebol, até por estar longe dele. Especialmente quando o assunto envolve o Vasco, paixão assumida desde sempre. Mas não resisti ao ler, na Folha, que o jovem meia Bernardo - artilheiro do time ano passado e destaque da equipe, mesmo não sendo titular absoluto - acertou sua transferência para o Santos, por empréstimo.
     Certamente foi a melhor opção para o atleta, em litígio com o clube porque ousou pedir, na Justiça, rescisão de contrato, em virtude de salários e encargos em atraso. Talvez não fosse o caminho mais indicado. Poderia - e não o fez, é verdade - ter procurado a direção antes de se decidir pelo recurso extremo. É quase certo, também, que seu empresário tenha influenciado nessa decisão, de olho na comissão que ganharia ao negociar o passe do jogador com outro clube. Mas o atleta tinha o direito de agir como agiu.
     Bernardo, que já foi ídolo do torcedor e se declarou torcedor (chegou a tatuar uma caravela na perna), vinha treinando afastado do grupo, como se toda a culpa fosse dele. Não é. O Vasco - assim como outros clubes cariocas, em especial - vem se notabilizando em ignorar responsabilidades, atrasar salários, deixar de recolher impostos. Não é de hoje. Juninho - ele mesmo, o 'Reizinho' - processou o clube há alguns anos, e venceu.
     Outro exemplo de desídia administrativa vem sendo vivenciado por Carlos Alberto, o meia que liderou a volta do clube à primeira divisão do futebol brasileiro, em 2009. Afastado do elenco e emprestado a alguns clubes após ter discutido com o presidente Roberto Dinamite, está amargando o isolamento, obrigado a treinar longe dos companheiros.
     A punição pelo 'crime' de ter desafiado o presidente - em uma bate-boca no vestiário, onde ele, Roberto, não deveria estar, naquele momento, após uma derrota no Campeonato Carioca - parece ser eterna. Azar o do clube, que paga seus salários e o deixa marginalizado, numa evidente atitude vingativa, que desmerece o passado do maior artilheiro e ídolo da história vascaína. Roberto, ao que parece, esqueceu rapidamente as humilhações passadas durante a presidência de seu antecessor, Eurico Miranda, a quem vem copiando, com atitudes tão mesquinhas.
     Deveria, como presidente de um clube que envolve uma história inigualável e pela sua própria trajetória no futebol de São Januário, procurar se espelhar no exemplo dos fundadores, defensores perpétuos da luta contra discriminações, sejam elas quais forem. E lembrar que, acima de tudo, estão os interesses do clube.
     Carlos Alberto é um patrimônio do Vasco e não pode ser desvalorizado assim, ao ser tratado dessa maneira. E, se isso não bastasse, mereceria algum respeito, ao menos, por ter se transformado em mais um da enorme família de torcedores do clube.

     PS: Fico à vontade para criticar Roberto, em quem votei para presidente do clube, na última eleição da qual participei, como sócio proprietário. Fico ainda mais à vontade ao reconhecer nele o maior ídolo da nosssa história. E disse isso a ele certa vez, quando o entrevistei para uma matéria especial do Jornal do Brasil. O Vasco, para mim, no entanto, está acima de pessoas, mesmo quando uma delas é Roberto.

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