terça-feira, 27 de março de 2012

Investigar? Está tudo gravado!

     A Procuradoria-Geral da República anunciou hoje que vai 'investigar' as relações nebulosas entre o ainda senador Demóstenes Torres, do Democratas goiano, e o contraventor Carlinhos Cachoeira, flagrados, pela Polícia Federal, em conversas escandalosas. Está atrasada quase três anos. E não tem muito a investigar. Basta colocar o gravador para executar a trilha sonora de mais uma agressão à decência perpetrada por alguém eleito para zelar pela dignidade da nação.
     Está tudo gravado, a partir de 2009. São conversas claras, irrefutáveis - a julgar pelos trechos já divulgados em todos os jornais, revistas e tevês brasileiros. Um senador da República pedindo para um contraventor pagar suas viagens de táxi aéreo e - certamente em troca do 'favor' - contando segredos ouvidos em reuniões no Congresso. É algo asqueroso.
     Pressionado pela repercussão do caso, o presidente do DEM, senador José Agripino (RN) já admitiu a adoção de medidas contra o parlamentar, a quem substituiu na liderança do partido no Senado. Vejam bem: o parceiro do contraventor era o líder de um partido que prega o rigor contra as recorrentes pilantragens que vêm sendo registradas no Governo ao longo dos últimos nove anos.
     Os demais partidos, à exceção do PSOL, têm mantido um confortável distanciamento do caso. O PT, sempre às voltas com denúncias de assalto aos bens públicos, está relativamente assanhado. Mas não lhe convém ficar pedindo punições para comportamentos inadequados. Há uma lista de estrelas do partido oficial na porta do xadrez (uma cadeia retórica, apenas, infelizmente), esperando apenas os juízes baterem o martelo. E outros virão, não demora muito.
     O ainda senador goiano, num ato que pretende se de 'desprendimento', pedou o afastamento da liderança, para ter tempo de se defender das acusações. Repararam que a cantiga é a mesma: todos - ministros, secretários, políticos em geral - renunciam ou pedem para sair de algum cargo para se defender de algo indefensável.
     Demóstenes deveria, sim, ter seu mandato cassado imediatamente, a bem do pouco que ainda resta de decoro em Brasília.

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