sábado, 31 de março de 2012

Razão e emoção



     Tenho grandes e queridos amigos que serviram ao Exército durante praticamente toda a vida. Era o caminho natural de jovens muitos suburbanos no começo dos anos 1960. Embora divergíssemos ideologicamente ao longo do tempo, soubemos cultivar o respeito e o carinho que nos uniam. Sabia o que eles pensavam sobre a condução do país e eles sabiam como eu reagia ao período de arbítrio que se instalou no Brasil especialmente após a edição do AI 5, no fim de 1968.
     Convergimos no alívio com a promulgação da Lei da Anistia. Não, não tínhamos qualquer receio pessoal. Embora ativo intelectualmente, não participei de movimentos mais radicais. Assim como eles jamais serviram nos porões. Defendiam – e ainda defendem – os princípios do movimento militar que destituiu o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, há exatos 48 anos. Mas jamais sujaram as mãos.
     Embora ainda cultivemos muitas divergências, temos – eu e um desses amigos diletos, em especial – uma certeza comum: essa onda de revanchismo e ‘caça às bruxas’ não serve ao país. Ao contrário, expõe feridas, radicaliza, remete a um passado que já deveria estar sepultado.
     Não me refiro, especificamente, à necessidade de o Brasil conhecer seu passado, até mesmo para entender o presente e projetar o futuro. A verdade, seja ela qual for, é sempre bem-vinda, desde que desprovida de preconceitos, de pré-julgamentos, da visão momentânea.
     Não é, infelizmente, o que se propõe no momento. Com o argumento de fazer justiça à história, estamos prestes a condenar a Lei, ignorando-a. Os primeiros resultados puderam ser vistos durante a semana, quando um bando de manifestantes atropelou a democracia que diz defender. Foram cenas lamentáveis, de puro ódio, inconcebíveis.
     O Brasil não merece reviver essas cenas.

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