terça-feira, 13 de março de 2012

'Isso é política, estúpido!"

     Duas mudanças inócuas no Congresso. A troca de seis por meia dúzia em nada vai mudar a relação do Governo com a banda mais forte da sua 'base de apoio', o unipresente PMDB, fiel de todos os governos pós-redemocratização. A bem da verdade, suas lideranças são as mesmas que davam sustentação, pelo menos, aos dois últimos governos do regime militar, destaque para o ex-presidente da República e atual presidente do Senado, José Sarney.
     O que está em jogo não é o poder de convencimento de um Cândido Vacarezza ou de um Arlindo Chinaglia, na Câmara de Deputados; de um Romero Jucá ou de um Braga (Fernando Braga, PMDB-AM), no Senado. O PMDB quer - e já escrevi sobre isso - mais espaço no poder, mais cargos, mais emendas liberadas, mais protagonismo (leia-se ministérios, diretorias, secretarias, verbas ...) e um pouco menos de subserviência (sem exageros, imagino), que é a sua grande marca nos últimos nove anos.
     Outros partidos da tal base - PR, PTB, PDT, PRB, PP - contentam-se com os cargos e tudo o que eles carregam, numa troca bem mais objetiva e direta. Não há veleidades ideológicas. A entrega do Ministério da Pesca, por exemplo, ao senador e bispo Marcelo Crivela (PRB-RJ), jamais levou em conta o que ele pensa da política - se é que pensa. Foi um simples afago destinado a agradar à bancada evangélica e, em consequência, aos rebanhos de fiéis que podem ser determinantes nas próximas eleições municipais.
     Foi um meio de o Governo dizer aos milhões de comandados pelo bispo Edir Macedo e outros semelhantes, que não precisam se assustar com os fantasmas do aborto e do casamento homossexual, bandeiras que o PT costuma levantar apenas para agradar determinadas plateias.  É como se a presidente Dilma estivesse orando: "Votem nos nossos candidatos. Nós somos aliados. Vejam o Crivella, ele é nosso ministro, ele está conosco".
     Ao mesmo tempo em que faz agrados à parceirada, o Governo submerge seus ministros 'políticos', principalmente aqueles que andaram brincando de desafiar a turma fardada. Isso, além de eleger um inimigo para chamar de seu, o boquirroto secretário-geral da Fifa, Jérôme Volcke.
     "Isso é política, estúpido!", talvez dissesse o ex-presidente americano Richard Nixon, se vivo e confrontado fosse com o Brasil do século 21.

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