sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Voando com um mito

     Encontrei Jorge Amado, certa vez, na sala de espera do Aeroporto de Congonhas. Estava sentado, esperando meu voo para o Rio, quando notei a chegada de um grupo, discreto, que sentou exatamente em frente a mim. Levantei os olhos e confesso que fiquei emocionado ao reconhecer o escritor ao qual fui apresentado quando ainda era muito jovem, através da sua obra, estimulado por minha mãe, quase ao mesmo tempo em que me encantei por Machado de Assis e Aloísio Azevedo.
     Jorge Amado já não estava bem. Ao seu lado, irradiando simpatia, Zélia Gatai, e Paloma. Educadamente, nos cumprimentamos. Certamente não consegui disfarçar o ar de tiete - e nem me esforcei para isso.  Meu ídolo da juventude manteve-se calado praticamente o tempo todo, mergulhado naquele silêncio que o caracterizava. Quando anunciaram meu voo, notei que viajaríamos juntos. Eles, na primeira fileira.
     Já estávamos no ar há algum tempo quando não resisti e chamei a aeromoça. Perguntei a ela, delicadamente, se a tripulação sabia que Jorge Amado estava a bordo. A reação foi de uma quase indiferença. A jovem não ligou o nome ao mito. Insisti sugerindo que talvez fosse interessante o piloto destacar essa presença mais do que ilustre. Na verdade, presenças: Zélia era muito mais do que a esposa de um gênio.
     Descemos no Rio sem qualquer referência. Ainda vi a família ao lado da esteira, pegando as malas. Ninguém olhou para o lado.
     Contei essa história aqui, há algum tempo. Repito hoje, modestamente me associando às comemorações pelo centenário do nosso maior escritor do século 20.

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