sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Cinco horas demolidoras

     Não há como evitar o tema. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com absolutas calma e segurança, como se inspirado num verso de Cartola, reduziu a pó as pretéritas e futuras alegações dos criminosos que compunham a quadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio que ficou conhecido como Mensalão. Não esqueceu um detalhe sequer, citou não apenas evidências ou suposições, mas provas do esquema salafrário instituído nos primeiros anos dessa infindável Era Lula.
     E foi além, para desespero dos que ainda tentam empulhar o país com a fantasia do tal 'caixa 2', crimezinho mulambo quando confrontado com dimensão desse que foi um dos maiores atentados à nossa democracia. Não citou o ex-presidente Lula - para mim, e venho repetindo isso seguidamente, o poderoso chefão -, mas foi incisivo quando colocou a roubalheira dentro do Palácio do Planalto.
     Roubou-se - e ele, o procurador, não fez por menos - sob o mesmo teto do ex-presidente, na sala ao lado do seu gabinete. Foram cinco horas demolidoras que terminaram com uma grande ameaça no ar: cadeia para a gangue. Não apenas uma leve admoestação, uma palmada retórica ou uma condenação revertida em prestação de serviços. Não. Roberto Gurgel pediu a prisão dos quadrilheiros liderados e organizados pelo PT, na ânsia de atender aos seus projetos de poder e - já não se fazem revolucionários como antigamente ... - encher os bolsos.
     Não há sofisma capaz de desmentir provas anexadas ao processo, muitas que jamais serão do conhecimento público, face às garantias de sigilo. Não podemos esquecer que o processo tem 50 mil páginas. É isso mesmo: 50 mil. Seria impossível encher tanto espaço com elocubrações.
     Vem dessa constatação - da segurança demonstrada na acusação - o pavor dos envolvidos e de seus comparsas. Os ministros, embora sujeitos a rever decisões que certamente já estão tomadas, já sinalizaram, ontem, ao não desmembrarem o processo, como queriam os advogados de defesa liderados por esse incrível ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o mais bem pago advogado de porta de xadrez desse país.
     A dúvida, pelo que se pôde depreender da repercussão desses dois dias de julgamento, não é mais se os quadrilheiros serão condenados, ou não, mas, sim, o tamanho da pena de cada um. Com um - digamos - 'detalhe' aterrador: a decisão do Supremo tribunal Federal é irrecorrível. Não há instâncias superiores. Exercitando a imaginação, sem tirar os pés do chão, podemos pensar em uma cena emblemática: José Dirceu e comparsas saindo do Tribunal algemados, direto para camburão.
     O Brasil tem tudo para começar uma nova fase a sua vida.

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