segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O estigma das cotas

     Não satisfeito em sucatear o ensino público em geral, esse governo manobrou para criar uma excrescência no ensino superior, em especial: o fim do acesso meritório, com a adoção de estapafúrdios 50% de cotas. Metade dos alunos seria aprovada por mérito e a outra metade por ser desamparada e tratada com desprezo pelo governo.
     É a essência da admissão de culpa pelo abandono de populações, malformadas academicamente e despossuídas financeiramente. Uma solução medíocre que colabora - no meu entendimento - para consolidar a discriminação, o estigma. O esforço e a dedicação da classe média baixa branca, por exemplo, estariam sendo jogados pela latrina.
     Certamente não é isso que negros, indígenas e pobres desejam, com as exceções que justificam a regra. Todos nós - independentemente de rótulos que já não fazem o menor sentido - queremos a mesma coisa: ensino de qualidade desde a base, para formar gerações informadas, bem formadas e capazes de traçar seus destinos, ou pelo menos lutar em razoáveis condições de igualdade.
     A forma demagógica e populista das cotas - a exemplo do que vem acontecendo em todos os setores da vida nacional - não vai resolver o grande problema desse país: a falta de qualificação de sua mão-de-obra. Universitários mal-formados serão excluídos do mercado e servirão, apenas, para engrossar falsas estatísticas destinadas ao uso nas campanhas eleitorais.
     Não sou totalmente contra o estímulo aos menos aquinhoados, de forma equilibrada, com bom senso. Minha formação e história pessoal (filho de um imigrante português; neto de aldeões analfabetos; bisneto de uma africana que nasceu livre, ao contrário da mãe (minha trisavó) escrava; e ex-aluno exclusivamente de escolas públicas) impediriam isso. Mas não consigo encontrar justiça em institucionalizar uma enorme camada de cidadãos de segunda categoria, os cotistas.
     O resultado dessa política conspurcada pela ideologia barata pode ser terrível para o país e marcar as instituições federais, como acontece nos primeiro e segundo graus do ensino público. Estabelecer cotas discriminatórias apenas mascara o problema da falta de investimentos na base da pirâmide social.

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