terça-feira, 21 de agosto de 2012

Governo dá apoio oficial a um mensaleiro

     Um texto sem muito destaque, que se limitou a fazer uma constatação, foi o que mais me chamou a atenção na edição de hoje de O Globo, pelo muito que encerra, pela mensagem óbvia. A ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Míriam Belchior, formalizou seu apoio à candidatura do ainda deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) à prefeitura de Osasco. Não é uma ministra qualquer, daquelas que estão em Brasília para preencher cotas. Trata-se da mais importante do Governo Dilma, não tenho a menor dúvida. Uma lídima representante do esquema de poder. E ela está com João Paulo e não abre.
     Não é uma apenas uma manifestação pessoal, que já seria reveladora da visão desastrada que determinadas pessoas têm da roubalheira desembestada denunciada pela Procuradoria Geral da República e que vem sendo destrinchada pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. A ministra, ao gravar seu apoio formal a um dos integrantes mais lamentáveis do Mensalão, exibe, sem máscara, o que o Governo Dilma e a companheirada pensam do caso.
     Pelas circunstâncias, é mais do que um simples e singelo apoio a um correligionário de todos os momentos, um amigo de longa data. É um verdadeiro desagravo, a confirmação do desprezo que o núcleo do Poder tem pela dignidade no trato com os fatos públicos. De maneira ao mesmo tempo oblíqua e direta, o Governo manda um recado ao país e atende a exigências das alas mais insanas do PT, as que renegam os fatos e se alinham com criminosos.
     A presidente, como de hábito, finge estar alheia ao processo, como se ele não lhe dissesse respeito. É uma tática antiga que vem sendo usada à exaustão pelo PT, desde que assumiu o poder. Há sempre um menino de recado a postos para dizer o que a presidente quer, mas sem o ônus de assumir a responsabilidade por atitudes e pensamentos que vão de encontro às expectativas da população. Há sempre um gilberto carvalho e um marco aurélio garcia à disposição, para qualquer eventualidade.
     No caso dos quadrilheiros em julgamento, pelo envolvimento de nomes e fatos expressivos do universo petista, o grau de comprometimento vem crescendo, refletindo a exigência da cúpula partidária e do próprio Lula. E ainda não chegamos ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o "chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos", de acordo com a Procuradoria. O homem que administrava a roubalheira, de um gabinete ao lado da sala do então presidente da República.
     A definição pelo ministro Joaquim Barbosa para relatar o processo foi, com certeza, a maior vitória do libelo contra a corrupção e o mau uso do poder político. Escolha pessoal do ex-presidente, Barbosa - por ser negro - inibe as críticas que a turma do poder e seus satélites têm sido obrigados a engolir publicamente, mas que despejam em particular, quase sempre com expressões que não deixam dúvidas quanto aos seus preconceitos.
     A ministra Miriam Belchior externou, com seu apoio a um réu condenado pelos seus atos e mentiras, não apenas uma solidariedade fora de hora, mas o repúdio à independência de um juiz do STF que ousou se afastar da cartilha petista.

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