segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Estuprando a verdade

     Menos tímidas e envergonhadas do que se poderia esperar, continuam a surgir, aqui e ali, algumas manifestações de apoio a Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, que continua sob a proteção da embaixada do Equador em Londres, para evitar a extradição para a Suécia, onde é acusado de estupro. Eu até entendo que o presidente equatoriano Rafael Correa use o caso para conquistar almas desavisadas, ao comprar a briga pelo direito de dar asilo ao seu hóspede londrino.
     Afinal, o prestígio de Correa no mundo dos que conseguem raciocinar um pouco além das cartilhas produzidas pelo Ministério da Educação andava muito baixo. O aprendiz de ditador populista perseguiu e processou jornalistas e tentou fechar jornais e emissoras que ousaram denunciar suas boçalidades, no estilo do seu ídolo, o bufão venezuelano Hugo Chávez. Para ele, imprensa boa é a que aplaude todos os seus atos, por mais indignos. Algo semelhante ao que ocorre na Coréia do Norte e Cuba, por exemplo, onde não há liberdade alguma. A turma adora o 'conteúdo' do Granma, aquele jornal que só serve, mesmo, para atender às necessidades higiênicas dos cubanos, compensando a falta crônica de papel higiênico.
     Mas fico assustado, verdadeiramente, ao ler defesas emocionais de Julian Assange, sob o argumento de que sua prisão seria um atentado à liberdade de imprensa, uma tese que não se sustenta. Assange não está sob ameaça de prisão por ser um defensor da informação, da liberdade de impresa, por ter divulgado notícias secretas do governo americano. Isso é uma empulhação.
     A Suécia quer levá-lo a julgamento por estupro. Simples assim. Guardadas as proporções, é o caso do jornalista paulista Antônio Pimenta Neves, que matou a namorada. Sua história no jornalismo não tem a menor importância, nem pode ser colocada na balança. Assange não matou, mas estuprou, crime indefensável e que também merece ser punido com o mais absoluto rigor.
     Esse tipo de estelionato ideológico é preocupante, especialmente porque tem raízes profundas por essas bandas. São raríssimas as vozes que se levantam contra as arbitrariedades cometidas pelos governos companheiros, como os do Rafael Correa, Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner, para ficarmos apenas com nossos mais lamentáveis vizinhos de continente.
     Prevalece entre nós, embora na segunda década do século 21, o ranço dos anos 1960 e 1970. O discurso fácil para encantar companheiros de botequim. Julian Assange, meus caros, não está sendo procurado pela Justiça sueca por ter denunciado pilantragens americanas e afins. Ele é acusado de estupro. Cadeia nele!

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