quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A reação paraguaia

     Leio na Veja que o presidente paraguaio, Federico Franco, admite a possibilidade de seu país se retirar do Mercosul, mas que isso só se daria após a realização de um referendo popular, a princípio em abril do ano que vem, juntamente com as eleições. O país, sabemos foi suspenso do bloco, em junho, como represália à destituição do ex-presidente Fernando Lugo, pelo Congresso.
     Eu me arrisco a dizer que, se fosse hoje, o resultado da consulta seria amplamente favorável ao desligamento do país. A punição ainda repercute na população, que também apoiou - em sua grande maioria - a derrubada legal do ex-dirigente. O país vive, claramente um sentimento nacionalista. Embora encerrada há mais de 140 anos (1864/1870), a Guerra do Paraguai, quando o país foi esmagado por seus três vizinhos (Brasil, Argentina e Uruguai), ainda está muito presente no emocional da nação, abalado com o desrespeito a uma decisão (o impeachment de Lugo) que considera legal e constitucional.
     As mazelas atuais ainda são colocadas na conta dos fronteiriços Brasil e Argentina, principalmente o Brasil, visto como uma espécie de imperialista da América do Sul. Governos militares ajudaram a reduzir o distanciamento entre brasileiros e paraguaios, cujo realacionamento foi estreitado com a construção de Itaipu, a binacional de energia que, hoje, pode ser usada como arma paraguaia.
     A identificação ideológica com o destituído presidente Lugo também mascarou as divergências, o que não impediu, entretanto, que o Paraguai exigisse a revisão do valor que o Brasil paga para consumir o excedente energético produzido por Itaipu. A mão de ferro usada contra o país reabriu antigas feridas.
     Como o Mercosul já vem dando sinais de desgaste e com possibilidades de se abrir a investimentos mais diretos de outros países, com relações bilaterais, o Paraguai começa a não se sentir tão dependente do gigante que mora ao lado. Um gigante que, em virtude das circunstâncias, depende da energia paraguaia para movimentar suas engrenagens.

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