quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Baderna sem limites

     E se eu resolvesse parar meu simplório Celta na Avenida Rio Branco, às três da tarde, em protesto contra a onde de greves e manifestações de classe que paralisam o país há tanto tempo? Certamente seria alvejado por um bando de guardas municipais e policiais militares, talões de multa nas mãos, reboques a tiracolo, sirenes, luzes piscando. Estaria livre, apenas, da ira dos policiais federais, por estarem em greve.
     Mas nada disso aconteceu com os milhares de vans e assemelhados que infernizaram a cidade ontem, assim como nada houve com os motoristas de caminhões que fecharam recentemente a Via Dutra, em total desprezo pelo direito alheio. Para baderneiros - e não há outro termo que caracterize melhor personagens que ignoram a lei -, a tolerância das autoridades, que olham mais para as eleições do que para a Constituição. Para nós, pobres pagantes de impostos, os rigores da lei, pontos perdidos na carteira de habilitação e - eventualmente - o risco de uma detenção por desacato.
     Mais ou menos - guardadas as proporções - o que acontece com os grevistas federais que querem passar de salários enormes para salários ainda mais enormes (exceção aos professores, certamente a categoria profissional menos valorizada nesse país), como os nossos digníssimos policiais federais, que, além de tudo, têm direito a porte de arma e fé pública.
     Na manifestação de ontem, no Rio, houve, ainda, um componente mais deletério: a politicagem. Segundo o noticiário, um dos artífices da balbúrdia é candidato à Câmara de Vereadores e tem sua base eleitoral no transporte alternativo. Deveria ter sido preso, por incitação à desordem. Tem tudo para ser eleito e contribuir ainda mais para a desmoralização do poder legislativo municipal, envolvido historicamente por atos desabonadores de seus representantes.

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