sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sob as luzes de Paris

     Se já não fossem suficientes todos os indícios da estreita relação entre a Delta Construtora, parlamentares e governantes, as mais recentes (jamais podemos falar em 'últimas', nessa inefável 'Era Lula') notícias de encontros do empresário Fernando Cavendish com políticos da chamada 'base' deveriam provocar a imediata convocação do ex-presidente da 'filha pródiga do PAC' para depor na CPMI que deveria estar apurando a tenebrosa promiscuidade entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o poder, em suas mais diversas manifestações.
     O palco desse novo encontro foi, como em ocasiões anteriores, Paris, a cidade que parece atrair, com sua luz, todos os bandos que gravitam em torno das manobras de bastidores, acertos de contas superfaturadas, financiamento de campanhas e partidos políticos, compra e venda de mansões a preço de apartamentos populares. Não por acaso - e nossos jornais destacam o fato hoje -, os digníssimos participantes de uma 'boquinha' com Cavendish retribuíram o convescote, ajudando a postegar a convocação do empresário.
     As reações a mais essa exibição de vigarice explícita foram bem variadas. Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Raldolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) foram incisivos na denúncia dessa nova derrapada na indignidade, lembrando que o ex-presidente da Delta escapou por muito pouco da convocação. Miro chegou a acenar com a existência de uma "tropa do cheque", a serviço do acobertamento das falcatruas protagonizadas pela construtora.
     Foi o bastante para o eminente deputado federal Candido Vacarezza (do PT, é óbvio) sentir-se atingido, embora não tenha sido citado. Compreende-se. A carapuça deve ter servido perfeitamente. Ele - obreiro do PT, em especial do ex-presidente Lula -, é um dos mais eloquentes defensores da não apuração total do escândalo, seguido de perto pelo - digamos - tergiversante relator da CPI, o petista Odair Cunha, que vem se revelando um mestre na manipulação, nos encaminhamentos parciais.
     O PT não quer saber de ouvir nem Cavendish (que prefere calar, para salvar o que for possível do império que está ruindo), nem o ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que está pedindo para contar tudo o que sabe sobre as bandalheiras executadas sob as asas do seu departamento. É um caso típico de investigadores que não querem investigar, que afastam testemunhas de crimes a pontapés. Essa é a verdadeira face da turma que tomou de assalto o país há nove anos e meio.

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