quinta-feira, 14 de junho de 2012

Por que não te calas, Cristina?

     A presidente argentina, Cristina Kirchner, cópia desmaiada e - ela, sim - anacrônica de Eva Peron, vai usar a ONU, hoje - exatos 30 anos do fim da guerra entre Inglaterra e Argentina -, como palco de sua desmoralizada cruzada contra o direito britânico sobre as Ilhas Falklands, que ela e a 'mídia' brasileira insistem em chamar de Malvinas, desrespeitando uma decisão soberana e democrática dos seus habitantes, os 'kelpers'.
     A argumentação argentina, aceita apenas por ultrapassadas e mofadas questões ideológicas, não se sustenta historicamente. O 'império britânico' está lá, nas ilhas que compõem o arquipélago, há quase 200 anos e conta com o apoio total dos habitantes, que repudiam qualquer hipótese de ocupação, de mudança. Até o início dos anos 1800, o conjunto de ilhas pertencia, por decisão papal, à Espanha ("lá vem você com o tal Tratado de Tordesilhas", poderão argumentar alguns), que vendeu parte à França, que também abandonou o território, ocupado pela Inglaterra.
     A Argentina, após a independência, sequer se interessou pelas ilhas, teoricamente integrantes do seu território por algo em torno de dez anos. Mas só teoricamente. A presença inglesa, embora relaxada durante algum tempo, jamais deixou de existir. Se não bastasse esse componente histórico, há um fato inquestionável: as ilhas e ilheus querem ser britânicos, e ponto final. É uma questão pura e simples de direito à autodeterminação, sempre avocado quando interessa a algum grupelho, mas ignorado, como agora.
     Falar em imperialismo, especialmente nessa questão, cheira a estupidez. É um discurso bolorento de políticos medíocres, como a presidente do nosso vizinho, uma ferrenha defensora do controle das comunicações e da maquiagem de dados econômicos. Se a desastrada guerra de 1982, iniciada pelos generais que comandavam a ditadura argentina, fazia parte de um projeto destinado a dar sobrevida ao regime, as bravatas de hoje têm uma proposta semelhante: esconder o fracasso do governo de Cristina Kirchner, que já não consegue comprar o apoio integral dos 'descamisados', com bolsas e subvenções, e tem o repúdio da classe média, oprimida por intervenções descabidas na sua liberdade.
     Assim como fizeram os generais da ditadura, a presidente elegeu a Inglaterra como a inimiga a ser vencida, apelando para os mais medíocres e despropositados sentimentos de patriotismo, descrito de maneira absolutamente perfeita pelo escritor e jornalista inglês Samuel Johnson (1709/1784). Johnson, já dizia, há 250 anos, que o patriotismo é "o último refúgio do canalha", por servir de desculpa e justificativa para atos deletérios.
     Com essa fórmula desgastada, a Casa Rosada tenta desviar a atenção para a inflação alarmante, para a desvalorização galopante de sua moeda, para o fracasso das atividades industriais e agrícolas. A Argentina - e isso não é segredo para ninguém - sobrevive das esmolas que recebe do governo Hugo Chávez, das benesses de uma relação promíscua. E caminha celeremente para o atraso.
     Enquanto Cristina Kirchner desfila sua estudada catilinária na ONU, a população das Falklands - segundo nos informa Veja - celebra a vitória sobre o jugo argentino (74 dias de ocupação e uma derrota estrondosa) com missa na catedral de Port Stanley e uma parada militar de veteranos, em frente ao Monumento da Libertação. Libertação, meus caros.

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