quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dignidade não tem matiz

     A exploração vagabunda dessa dicotomia já vem me fazendo mal há muito tempo, especialmente porque é usada como arma para dilacerar reputações e desculpar canalhices. Aos 'esquerdistas' - segundo perfil adotado genericamente - tudo é perdoado. Podem roubar, esconder dólares na cueca, falsificar dossiês, corromper e serem corrompidos, chantagear juízes, assaltar os cofres públicos. Exatamente como se vê há alguns anos aqui no Brasil. Já esses direitistas ...
     Quem ousa confrontar a demagogia dominante, o vale-tudo-para-se-manter-no-poder, os discursos cheios de exclamações e vazios de conteúdo e a contradição de quem defende o 'controle social da mídia', que é como essa gente apelida a censura pura e simples, entre outras coisas, corre o risco de ser apedrejado até à morte em praça pública, como se fosse uma adúltera iraniana. Ou ser atirado ao mar, como os homossexuais cubanos o foram pelo regime castrista, há alguns anos.
     A única divisão que aceito, na política e na vida, é entre o canalha e o homem digno. Não há bons canalhas, assim como não há canalhice entre os dignos. Há, sim - e eu as respeito -, divergências no modo de ver e analisar a vida, o que ela pode e deve oferecer de melhor para a humanidade. Assassinos de 'direita', como Pinochet, são tão deploráveis quanto os de 'esquerda', como Guevara. O petista José Dirceu e o democrata Demóstenes Torres são igualmente detestáveis.
     O 'revolucionário' capitão Carlos Lamarca, que assassinou um refém a coronhadas, merece a mesma condenação moral imposta ao coronel Curió, que ajudou a exterminar prisioneiros na região do Rio Araguaia, durante o governo militar. Não há dignidade nem brilho em qualquer dessas ações.
     Jamais consegui aceitar essa - digamos - escala de valores que sobreviveu à Revolução Francesa e deveria ter sido derrubada juntamente com o Muro de Berlim. Os homens devem ser avaliados de acordo com a essência de seus valores e atos. Até hoje, quando me deparo com essa vigarice ideológica, lembro de um diálogo com um antigo chefe, na velha redação de O Globo.
     Inconformado com minha posição independente em relação ao arbítrio cubano (não engulo a ditadura desde então), meu superior não teve constrangimento em perguntar e, ao mesmo tempo, responder ao que ele considerava uma questão absoluta e eterna:
     - Você sabe quando uma execução sumária, sem julgamento algum, é justa? Quando é realizada em nome do povo.
     Dito isso, trocou meu horário de trabalho e durante infindáveis dois meses fui uma espécie de 'setorista' de atropelamentos no final do dia, apesar de ser o mais bem pago repórter de Geral.
    

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