terça-feira, 19 de junho de 2012

A chantagem do ex-ministro

     O advogado de porta de xadrez mais bem pago do Brasil, o ex-ministro de Lula Márcio Thomaz Bastos, petista de carteirinha, abandonou por alguns minutos sua mais atual e destacada fonte de renda - a defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira - e voltou seus baterias retóricas para o julgamento das quadrilha do Mensalão, que se aproxima inexoravelmente, para desespero dessa gente que assaltou os cofres públicos, segundo denúncia da Procuradoria Geral da República.
     Sem demonstrar rubor - imagino, pelo que venho acompanhando nos últimos anos - ou qualquer vestígio de constrangimento, o grande responsável pelas manobras que impediram a cassação de Lula sacou da carteira, sempre recheada, uma teoria que merece ser inscrita entre as candidatas ao ranking das maiores vigarices retóricas do ano. Segundo ele - não é para rir -, o Supremo Tribunal Federal não pode se deixar influenciar pelas chantagens em relação ao julgamento dos 38 assaltantes do dinheiro de todos nós.
     É isso mesmo, está lá, em O Globo, com todas as letras, em um texto que - sou obrigado a apontar, por imposição de consciência - parece ter saído da máquina de fantasias e diversionismos da assessoria de imprensa do PT. É preciso ter muita coragem - ou total ausência de superego - para usar esse argumento, não muito tempo depois de o Brasil inteiro ter sido agredido pelo comportamento indigno (mais um, apenas) do ex-presidente Lula, que - ele sim - tentou chantagear integrantes da nossa mais alta Corte.
     Advogados, nós sabemos, cumprem esse papel a todo o momento. Em tese, a defesa de seus clientes justifica qualquer atitude, mesmo que ela atropele consciências, agrida a verdade. O espírito, de fato, não deveria ser esse. Não se discute que todos têm direito à melhor defesa possível, mas não à custa da dignidade. A inversão de valores, entretanto, valoriza justamente os mais capazes de provar o improvável; desmentir os fatos; reduzir a verdade a um mero penduricalho.
     O palavrório do ex-ministro de Lula e advogado de Cachoeira é a essência dessa fase de dissolução institucionalizada que afoga o país há nove anos e meio.

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