terça-feira, 5 de junho de 2012

Pelo fim do anonimato

     Ao que tudo indica, está perto do fim uma das grandes ignomínias da nossa democracia: o voto secreto no Congresso. O presidente do Senado, José Sarney (acreditem ...) anunciou que vai colocar em votação as propostas de emendas constitucionais que versam sobre o tema, já no próximo dia 13, segundo nos informa a Veja. Há conceitos diferentes. Uma das propostas prevê apenas o o voto aberto em processsos de cassação de mandato. Outra, mais coerente com os novos tempos, elaborada pelo senador Paulo Paim (PT- RS), é fulminante e acaba de vez com os segredos.
     As propostas estavam prontas há mais de dois anos, sem que fossem levadas adiante, comodamente. É mais fácil para a turma de senadores e deputados se esconder no anonimato para sufragar indecências, como - por exemplo - a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PNM do Distrito Federal), flagrada recebendo propina quando ainda não havia assumido o mandato.
     A reação indignada à possibilidade de escapatória do ainda senador Demóstenes Torres, graças ao artifício do voto secreto, parece ter sensibilizado um setor do Senado que mantém um comportamento digno. O anonimato, se protege quem se utiliza dele para atos reprováveis, compromete, no entanto, a credibilidade de todos.
     É verdade que talvez não seja possível aprovar o fim dos segredos a tempo do julgamento de Demóstenes. Há, então, o risco de ele escapar do merecido e exemplar pontapé que a sociedade está exigindo. Mas - acredito - é um risco pequeno. As relações escandalosas do senador com o esquema de corrupção montado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira extrapolaram. Algo menor do que a cassação teria um enorme efeito negativo no já combalido respeito que a população devota à classe política em geral.
     Dos nossos representantes deve ser exigido um comportamento claro, aberto, transparente. Eu quero, sim, saber como votam deputados e senadores. Saber a quem defendem, com quem se aliam, que interesses representam. E isso só será inteiramente possível quando o instrumento do anonimato for quebrado de vez.

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