quinta-feira, 21 de junho de 2012

Goleada paraguaia

     O placar é acachapante: 76 a 1. É isso mesmo: 76 deputados, de 77, querem cassar o presidente, o ex-bispo Fernando Lugo. Confesso que jamais soube de uma 'oposição' tão forte como essa do Paraguai. Fica evidente, portanto, que não se trata, apenas, de uma luta entre partidos ou grupos. Não é decisivo, ainda. Mas é uma boa indicação para o que pode vir pela frente, no Senado paraguaio, já na sexta-feira. Para agravar a situação, uma penca de ministrou renunciou e outro grupo, indicado pelo partido da base, já anunciou que vai abrir mão de lugares no altar paraguaio.
     O mandato do ainda presidente Lugo está, de fato, ameaçado, Ele, que já vinha perdendo apoio, em virtude de uma administração muito criticada, é acusado formalmente de ser o responsável pela tragédia que terminou com a morte de seis policiais e onze sem-terra, sexta-feira, durante uma reintegração de posse determinada pela Justiça, no fim da semana passada. O conflito agrário, desde a posse do atual presidente, assumiu proporções quase incontroláveis. E pode crescer ainda mais, caso se concretize o temor de que grupos de sem-terra (os 'carperos', como são chamados, numa alusão à palavra 'carpa', barraca em espanhol) marchem para Assunção e o conflito se transforme em guerra civil.
     O processo de cassação está sendo desenvolvido de acordo com a Constituição paraguaia. Nada de golpe ou quartelada, práticas que já foram muito comuns por essas bandas. Guardando as devidas proporções, os paraguaios estão agindo como os brasileiros, quando da cassação de Fernando Collor.
     Particularmente, defendo sempre a 'cassação' que se origina nos eleitores. Eleição livre ainda é o melhor antídoto contra dirigentes vigaristas, incompetentes, mentirosos, demagogos e coniventes com assaltos aos cofres públicos. Eventualmente eles escapam e ainda conseguem continuar dando palpites e infelicitando seus países, mesmo fora do poder. Mas esse procedimento ainda me agrada muito mais do que a destituição, mesmo quando baseada em fatos graves.
     Açodado, como sempre que se propõe a defender 'amigos', e para não deixar passar a chance de se mostrar protagonista, especialmente na América do Sul, o governo brasileiro já se mobiliza para participar do processo. O ministro das relações Exteriores, Antônio Patriota anunciou que parte ainda hoje para o nosso vizinho, com um grupo de chanceleres dos países da Unasul. O governo brasileiro teria considerado a aprovação do processo de impeachment "muito rápida", como se tivesse esse direito.
     Espero que respeite a decisão soberana, seja ela qual for, do Congresso paraguaio.

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