O coração da serpente

     A maioria absoluta dos participantes da CPI que deveria investigar seriamente o envolvimento de parlamentares , governantes e empresários em geral com o esquema de contravenção dirigido por Carlinhos Cachoeira - formada pelo PT e partidos da 'base' governista - deu nova demonstração de covardia e medo: decidiu pela não convocação para depor do ex-presidente da Construtora Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre, o famigerado Dnit, Luis Antonio Pagot, demitido a bem do serviço público e que está louco para contar o que sabe.
     Ficou evidenciado, mais uma vez, que o Governo, em especial, tem pavor do que ainda pode surgir na CPI, que foi 'pensada' pelo ex-presidente Lula para atacar adversários e ajudar seus amigos quadrilheiros do Mensalão. As desculpas para postergar os depoimentos são as mais esfarrapadas que alguém pode imaginar. O porta-voz do PT e não por acaso relator da Comissão, o deputado federal mineiro Odair Cunha, não se envergonhou de recomendar ao ex-diretor do Dnit que, se quiser fazer alguma denúncia, procure a Polícia Federal.
     Ele, Odair, sabe muito bem que Pagot é um poço de mágoas, por ter pago, sozinho, pelos malfeitos que executou a serviço da causa, do PT e dos partidos afins, usando a gazua que abria os cofres públicos a empreiteiras - como a Delta - que patrocinavam candidaturas e partidos com a verba que desviavam através de aditivos e pagamentos de comissões, sinônimos da roubalheira (Mensalão, dólares na cueca, aviões repletos de dinheiro de origem 'desconhecida', uso de bancos públicos para financiar empresas companheiras, projetos vigaristas de ONGs amigas etc) que vem marcando os últimos nove anos e meio dessa infindável Era Lula.
     Sabe, também, que o Dnit tem tudo a ver, sim, com a essência da CPI, pois, no fundo de tudo, surge a Delta, a filha pródiga do PAC, essa conjunção de letras que nunca passou de um bem-sucedido projeto de marketing e uma ainda mais bem-sucedida fonte de enriquecimento ilícito. E sobre isso não há dúvidas. A CGU acaba de condenar a construtora ao limbo mais absoluto, pela prática de delitos.
     E, mais uma vez, fica explicado o motivo de tantos cuidados com o empresário Fernando Cavendish, ex-amigo do peito do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), cuja empresa está envolvida diretamente nesse lamentável processo de corrupção que envergonha o país.
     Portanto, não há o menor fundamento legal nem ético na recente decisão da CPI. O Governo Dilma, através de seu 'deputado de recados', apenas formaliza o que pessoas com um mínimo de discernimento e senso crítico anteviam há muito tempo. O esquema de poder montado a partir da primeira eleição de Lula é o maior ameaçado pelas investigações. Um Perillo aqui, um Queiroz ali e um Demóstenes acolá são meros danos colaterais. E por isso suas cabeças estão ameaçadas.
     O coração da serpente está em outro patamar.