domingo, 17 de junho de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (47)

     Vida sem mistérios

     Ontem foi dia de Pedro e sua bota destinada a aventuras. Hoje, vou contar uma história bem recente, fruto de um diálogo entre Júlia e a mãe, Flávia. Confesso que, para meu alívio, não precisei passar por um momento semelhante, naturalmente incluído no 'contracheque' das mães, para o bem de todos nós, pais, especialmente de meninas, como é o meu caso.
     Júlia sempre soube de onde vinham os bebês. E acompanhou dia a dia o crescimento da barriga da mãe, grávida de Pedro. Aos quatro anos, para ela era absolutamente natural que bebês crescessem na barriga das mães. Nunca houve dúvidas. Tudo sempre foi muito simples.
     Mas - e esse 'detalhe' é fundamental - ela só tinha quatro anos quando o irmão nasceu. Uma idade em que ainda não há questionamentos mais profundos. Mas aos oito, quase nove, como agora ...
     - Mamãe, eu sei que os bebês vêm da barriga das mães. Que nascem de uma sementinha. Mas como é que a sementinha chega na barriga?
     Pânico? Não chegaria a tanto. Mas Flávia admite que ficou sem ação, no primeiro momento dessa conversa que ela sabia inevitável, mas que não tinha ideia de quando surgiria. Mas só havia uma resposta possível, a mesma que ela teve quando se questionou. A mesma que deu a Fabiana, mais nova quatro anos, quando a irmã fez pergunta semelhante: a verdade.
     - Júlia, é o papai quem coloca a sementinha na mamãe, você já sabe. E por onde é que você acha que ela pode entrar?
     - Pela 'perereca'?
     - É. E de onde ela pode vir? Então ...
     Não teve tempo, nem precisou continuar. Júlia, com o jeito que eu insisto que é só dela, resolveu a situação:
     - Então, tem que 'transar' para ter filho?
     - Tem, Júlia. Como é você sabe disso?
     - Eu conversei com uma amiga na escola.
     E a conversa seguiu em frente, naturalmente, sem traumas, sadia, com direito à leitura, em conjunto (mãe e filha) de um livro, ilustrado, sobre o 'mistério' da vida.
     Júlia é assim.

2 comentários:

  1. Que lindas, mãe e filha,transparentes e naturais,como deveria ser em toda família..lembro pequenina com cinco anos e minha mãe abrindo um livro ilustrado,não lembro o nome, mas explicava como nascia os bebês..meus irmãos,mais velhos,estavam ali lendo e vendo cada virada de página que minha mãe dava e ao mesmo tempo explicando..e eu ali,quieta.. o Felipe tinha uns 7 e o Guilherme uns 9 anos. Quando a explicação estava quase terminando,eu perguntei: mãe, voce deixa esse careca fazer isso com voce? (meu pai é calvo,mas ainda tem cabelo).. Já percebeu que todos riram e eu sem graça com cara de ´´o que foi q aconteceu?``..não esqueço disso de jeito nenhum..crianças..ê ingenuidade boa..

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  2. A naturalidade deve prevalecer sempre, Patrícia. Acredito que seja meio caminho para uma vida saudável. É verdade que Júlia tem essa capacidade de simplificar. 'Princesas' são assim.

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