quarta-feira, 6 de junho de 2012

Carros, os mistérios do preço

     Esse emocionante - pelo menos para mim, que vivi nele, diretamente, por uma década - mundo dos automóveis precisa ser mais bem explicado e aberto ao nosso distinto público consumidor. Alvo de recentes medidas do governo, destinadas a estimular a venda de veículos e, com isso, ajudar a revitalizar a combalida economia produção industrial brasileira, o mercado automobilístico - em especial no quesito formação de preços - é, ainda, um intrigante mistério.
     Nossos carros são absurdamente caros, se comparados a semelhantes em quase todo o mundo. Já tive a oportunidade de lembrar, aqui mesmo, no Blog, algumas constatações que fiz e que se tornaram destaque nas páginas do antigo caderno Carro e Moto, do velho JB, que tive o prazer de chefiar nos anos 1990. Uma delas, por emblemática, tomo a liberdade de relembrar.
     Eu estava em uma praça de Turim, em um dos intervalos de uma visita à fábrica da Fiat, quando me deparei com um estande de vendas de uma concessionária local cujo destaque era o 'nosso' Pálio Weekend, modelo desenvolvido e fabricado em Betim, na Grande Belo Horizonte. Além do prazer em ver o destaque dado a um modelo saído do Brasil, fui atraído por outro 'detalhe': o preço cobrado na Itália.
     Minha memória, embora razoavelmente boa, não me permite, no entanto, dizer exatamente qual era o preço cobrado pelo modelo. Mas não tenho a menor dúvida em afirmar que era menor - é isso mesmo, menor - do que o cobrado por aqui. Imaginem: um carro saía de Betim, atravessava quilômetros de estrada a bordo de uma 'cegonha', atravessava oceanos e chegava às ruas italianas mais em conta do que os similares vendidos aqui. E todos os envolvidos no processo - dos fabricantes aos vendedores, passando por transportadores - estavam lucrando. Algo absolutamente surreal.
     O mesmo fenômeno - se é que podemos chamá-lo assim - ocorre na, digamos, 'contramão'. Modelos fabricados no exterior desembarcam nas nossas revendas custando duas ou três vezes mais do que nos países de origem. Para ambos os casos, há semprer alguém que acena com o 'custo Brasil', a absurda carga de impostos que incide sobre tudo o que é feito aqui ou trazido para nossas terras.
     Creio que esse custo explica, sim, grande parte das aberrações. Mas não esgota a discussão, principalmente no setor automotivo. A cadeia produtiva também é cara, é verdade. Mas nem mesmo essa soma de fatores justifica o preço final imposto aos consumidores, como ficou claro com a redução do IPI. Somando aqui e diminuindo ali, continuamos pagando preços muito elevados.
     A renúncia (na verdade, um ajuste, pois a perda é compensada pelo o aumento de vendas) ficou, apenas, por conta do Governo. O lucro das montadoras continuou imutável, graças a um artifício simples o objetivo: a base dos projetos - as chamadas plataformas - são praticamente as mesmas. E é sobre elas - amortizadas há muito tempo - que são montados os antigos, permanentes e novos modelos.

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