sábado, 17 de setembro de 2011

Um retrocesso no mercado

 
     Durante os anos em que tive o prazer de editar o caderno de automóveis do velho e ainda decente Jornal do Brasil, na década de 1990, mergulhei o mais fundo que pude no mercado, além de aprimorar técnicas de condução, em cursos e observando colegas mais antigos e bem preparados, como o excelente Bob Sharp (engenheiro, jornalista e piloto), que me ajudou a entender um pouco mais desse mundo.
     Acompanhei de perto a mudança de conceitos de produção e as exigências do novo consumidor brasileiro, provocada pela abertura do mercado. Nossos carros ficaram mais modernos e seguros, sim, para enfrentar a concorrência que, naquela época, tinha um toque de aventureira. Os importados eram despejados nos portos e chegavam às ruas, sem um compromisso mais eficiente. Mas essa presença foi suficiente para mexer com as marcas 'nacionais'.
     Pouco tempo depois do 'boom', os importados passaram a ser um transtorno para seus compradores (o pós-venda era catastrófico e, quando existia, absurdamente caro) e o mercado se encarregou de praticamente eliminar esse segmento.
     A história, no entanto, começou - há alguns anos - a ser reescrita pelas marcas além-mares. Japones e coreanos, em especial, redescobriram o Brasil, adotando novas táticas e aproveitando o momento da economia mundial, favorável aos emergentes. Algumas fábricas de fato, muitas expectativas e modelos competitivos deram nova feição a esse disputadíssimo segmento da economia e expuseram, mais uma vez, um dos males nacionais: nossos produtos são caros, muito mais caros do que em quase todo o mundo.
      E são caros, entre outros motivos, pela absurda carga tributária. Já contei aqui o caso do Palio Weekend, criado e fabricado em Betim, que chegava ao comprador italiano mais em conta do que para o brasileiro, depois de cruzar estradas e atravessar um oceano.
     A decisão governamental, de sobretaxar os modelos importados que tenham abaixo de 65% de nacionalização, sob o argumento de proteger a indústria brasileira e preservar o emprego, é mais uma demonstração da luta politicamente correta, mas com as armas erradas. Ao impor um aumento compulsório nos importados, a decisão, além de penalizar o bolso do consumidor, pode gerar uma nova acomodação da indústria nacional, que se veria livre da pressão da concorrência por preços e qualidade.
     Sou obrigado a concordar com parte do desabafo do presidente da Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini, ao jornal O Estado de São Paulo: "O carro brasileiro é um dos mais caros do mundo e nós estávamos incomodando, fazendo com que eles (as mondadoras nacionais) trouxessem o preço do carro para a realidade. A medida acaba com o balizamento de preço de carros no Brasil."

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