quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sem histrionices

     Reconheço que me surpreendo, eventualmente, entre os que aprovam determinados comportamentos da presidente Dilma Roussef. Depois de oito anos convivendo com as histrionices do ex-presidente Lula, qualquer sinal de razoabilidade, de discrição, surge como uma bênção, como um resgate da dignidade exigida pelo mais alto cargo do país.
     Essa boa vontade com nossa presidente, no entanto, não chega ao ponto de engolir de forma primária as fantasias criadas pela equipe de marketing do Palácio do Planalto. O destaque dado ao fato de Dilma Roussef ter sido a primeira mulher a falar na abertura da assembléia das Nações Unidas é uma grande bobagem.
     Tradicionalmente, cabe ao Brasil abrir o encontro. Se Lula tivesse convencido o povo a eleger uma anta, ouviríamos grunhidos. Se fosse uma girafa, não haveria discurso, pois 'girafas não falam'. A importância está (ou não) no conteúdo de seu discurso, que teve - é inegável - bons momentos e no qual procurou marcar uma posição de protagonismo, mas resvalou - em determinados instantes - na megalomania que marcou o governo anterior.
     A presunção de que o mundo deveria ter vindo ao Brasil para tomar aulas de administração de crises e de gerência deu sinais de que nossas Relações Exteriores continuam entregues a representantes do mais puro 'celsoamorinismo', uma das piores fases da história do Itamaraty.
     A referência à sua luta pelos direitos humanos no mundo foi, no mínimo, maquiada. Dilma foi presa e torturada absurdamente, sim, mas lutava não pela democracia, em si (e ela sabe disso), mas pela adoção de um regime que se mostrou , justamente, um algoz da liberdade individual, em nome de uma equivocada - e os fatos comprovam essa afirmação - prevalência do coletivo.
     A imagem que transmitiu, entretanto, ficou acima das expectativas. A presidente mostrou, com uma postura digna e controlada, que pode ser ouvida e respeitada, sem conspurcar sua função.

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