sábado, 24 de setembro de 2011

Copa da dignidade

     O eventual cancelamento da Copa de 2014 no Brasil, temor de muita gente, especialmente nas áreas esportiva e política, por razões óbvias, pode se transformar num enorme benefício para o país. Bastaria, apenas, que os bilhões de reais destinados à construção e reformas de estádios de futebol fossem revertidos para os setores de serviços públicos, sem prejuízo - é claro - dos investimentos que já estão sendo feitos principalmente nos aeroportos.
     Só a reforma do Maracanã sairá por quase R$ 1 bilhão, sem contar a fábula de dinheiro gasta há alguns anos, numa obra jogada no lixo agora. E isso ocorre num estado - o Rio de Janeiro - que não consegue atender decentemente a um jovem acidentado, como noticiado no início da semana. Não há dinheiro para a aquisição de máquinas de tomografia, mas há para remendar arquibancadas.
     Em São Paulo, numa evidente e injustificável manobra politiqueira, o Corínthians vai ganhar um estádio moderníssimo, gastando quase nada, ou muito pouco. Os cofres públicos vão bancar grande parte, tapando os olhos para os gravíssimos problemas de moradia (favelas abjetas), de trânsito, de enchentes, de segurança.
     São coisas distintas? É claro que sim. Mas todas dependem de recursos da mesma origem - em síntese, nossos impostos - e, por lógica, deveria haver uma escala de prioridades num país que ainda precisa de tudo.
     A desculpa de que essas competições deixam um legado fundamental chega ser risível. Construir estradas, túneis, melhorar o sistema de transporte e investir no saneamento são obrigações que não poderiam depender da realização de qualquer competição, por mais emocionante que seja.

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