terça-feira, 27 de setembro de 2011

Passado comanda a PM

     A notícia da prisão, hoje, do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, que comandava o Batalhão da Favela da Maré, sob a suspeita de ter participado ativamente da morte da juíza Patrícia Acioli, remete ao que há de pior nesse submundo que mistura policiais e crime e resiste às iniciativas de depuração vindas da sociedade.
     Normalmente, a prisão de um criminoso provoca alívio, renova a expectiva de maior segurança, alivia a carga dos honestos. Nesse caso, em especial, no entanto, a notícia provocou, em mim, uma sensação de derrota, de enorme desconforto, embora carregada de bons indícios, entre os quais o de que patentes não representam garantia de impunidade.
     É muito ruim ter a confirmação de que não podemos confiar sequer naqueles que ocupam posições de destaque justamente em uma instituição que deveria zelar pela dignidade humana, pelo respeito absoluto às leis.
     Segundo O Globo, o tenente-coronel foi acusado diretamente por um dos cabos que mataram a juíza e que denunciou seu comandante, em troca de um acordo para redução da pena e de proteção para ele e para a família, ameaçados de morte pelo grupo do qual fez parte. Na época do crime, o oficial servia em São Gonçalo e já fora indiciado pela juíza.
     A depuração na PM do Rio de Janeiro vem sendo intensa, dura e dolorosa. Infelizmente, embora atenda à premissa de não dar trégua aos bandidos travestidos de policiais, essa batalha foi incapaz de eliminar as causas, de mudar a alma de toda a corporação, de cortar de vez os vínculos com um passado de arbitrariedades consentidas e corrupção tolerada.
     A solução, talvez, só venha, mesmo, paralelamente ao aprimoramento da própria sociedade, de onde as instituições públicas selecionam seus membros. E esse processo passa por um inadiável e obrigatório comprometimento com os investimentos em educação, com a formação de cidadãos.

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