segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um exemplo de tolerância

     Leio nos sites e jornais de hoje que começa a se configurar uma nova leva de imigrantes de Portugal para o Brasil, em busca de oportunidades em uma economia bem mais estável e segura do que a portuguesa, em especial, e a europeia, em geral. São, ao que se informa, jovens com formação superior que não encontram, no seu país, respostas para suas expectativas.
     Certamente serão bem-recebidos, como de hábito. Ao contrário do que acontecia com brasileiros que fizeram o caminho inverso recentemente, culpados, em parte, pela redução na oferta de trabalho. A crise, que não é apenas portuguesa, talvez explique a reação exarcebada à chegada de estrangeiros, principalmente na Espanha. Mas não justifica, pelo histórico das relações do Brasil e dos brasileiros com os que aqui chegam.
     Eu, por exemplo, excetuando demonstrações genéricas de ignorância e preconceito, jamais me senti discriminado por ser filho e neto de imigrantes portugueses muito pobres que aqui chegaram no início do século passado, por volta de 1912, saídos de um mundo quase medieval, na histórica cidade de Ponte de Lima, norte do país, que até hoje preserva uma ponte dos tempos da ocupação romana.
     Um simples vendeiro e uma prosaica moleira analfabeta (meus avós paternos), que aqui desembarcaram com pouco mais de 20 anos de idade, puderam construir uma vida no Brasil, onde criaram seis filhos, dois deles nascidos em Portugal - Maria e Antônio, meu pai. Todos, incluindo o velho patriarca, por coincidência, foram funcionários públicos exemplares.
     Meu avô materno, a quem não conheci, também saiu de Portugal na mesma época, para criar aqui uma nova vida, ao lado de uma negra nativa, a quem também não tive a chance de conhecer (ambos morreram cedo, ao contrário dos meus avós paternos, que viveram mais de 90 anos).
     Fruto dessa cultura, desenvolvi uma natural aversão a discriminações. Aprendi com eles que existem homens e mulheres, que podem ser julgados (se é que se pode 'julgar' alguém) apenas e tão-somente pelo que são. Nunca por origens, cor ou credo.
     O Brasil, nesse aspecto, sim, poderia servir de exemplo para um mundo onde a intolerância assume contornos mais radicais a cada momento.

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