domingo, 24 de abril de 2011

Uma aventura caribenha - Capítulo 8


Na balsa, as picapes, com as barracas armadas sobre as caçambas

Sábado - 24/07/99 - Os Apitos de "Dona" Creusa 


     Rio Madeira, Amazônia (21h32) - Os três apitos (apitos, mesmo), no final da tarde do nosso primeiro dia a bordo da balsa que está nos levando a Manaus, já não causaram surpresa. Totalmente ambientados, sabíamos que quem estava apitando era "Dona" Creusa, a cozinheira da tripulação, chamando para o jantar. Pela manhã, vendo que não havia sido entendida pelos hóspedes inusuais, "Dona" Creusa adicionara aos apitos uma chamada verbal: "Hora do almoço", alertara. 
     A comida, simples, mas bem temperada, fez sucesso entre os quatro viajantes famintos e deslumbrados com a força e a beleza do Rio Madeira, um dos maiores do mundo - o décimo-terceiro, parece. Largo - em torno de quatrocentos metros - e com um surpreendente volume de água, especialmente para um período de seca como o que a região está passando -, o Madeira vem oferecendo a todos nós (eu, Alexandre Viana, João Carlos Nogueira e João Marcos) a oportunidade de apreciar belos espetáculos. Como o balé dos botos que por várias vezes surgiram ao lado na nossa balsa (na verdade, duas balsas empurradas pelo rebocador 'NM XXVI', da capitania dos portos de Manaus). 
     Os paredões de árvores, algumas com mais de 15 metros de altura, dão uma pequena idéia do que é a Amazônia. Quando nosso comboio passa mais perto das margens, em busca de canais de navegação mais profundos, dá para ouvir um pouco da voz da floresta. 
     De quando em vez cruzamos com outras embarcações. Pela manhã, passamos ao lado do que restou da "gaiola" (tipo de embarcação de passageiros que faz a ligação entre as cidades ribeirinhas) que naufragou semana passada. Na tentativa bem-sucedida de evitar maiores perdas, seu comandante conseguiu jogar ao barco num banco de areia a meio caminho da margem. Pelo menos uma pessoa morreu nesse acidente. Já o nosso comboio navega por águas tranquilas, conduzido na ponta dos dedos pelo comandante Moisés, formado e pós-graduado nessas águas. 
     Da ponte de comando, vai descobrindo, ao longe, os bancos de areia e as pedras que surgem no caminho. Em determinados trechos, um dos homens da tripulação mede a profundidade do rio, atirando um peso nas águas e contando as braças (cada braça mede dois metros). "Nossa margem de segurança é uma braça e meia. Menos que isso a balsa pode arrastar no fundo", explica, didaticamente.

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