terça-feira, 5 de abril de 2011

A continência negada

     Segundo O Estado de São Paulo, os novos oficiais-generais das Forças Armadas evitaram prestar continência para a presidente Dilma Roussef, no Palácio do Planalto, na solenidade em que ela também recebeu a mais alta comenda militar do país, as insígnias da Ordem da Defesa. Por sua vez, a presidente, em um discurso protocolar, apenas contornou os últimos incidentes que antepuseram Governo e militares.
     O incidente das continências negadas me remeteu a outro, que faz parte de um misto de história e folclore, envolvendo o ex-presidente Getúlio Vargas. Consta que, já no seu segundo mandato (1950/1954), um de seus auxiliares diretos externou preocupação com a reação dos militares, que o haviam deposto, há cinco anos.
     - O que o senhor acha que os generais vão fazer, presidente?", teria perguntado o assessor.
     - Bater continência, meu caro, bater continência", teria retrucado Getúlio.
     Acertou, em parte. As sucessivas crises e a irresistível pressão decorrente do que ficou conhecido como 'O atentado da Rua Toneleros' - no qual morreu o major Vaz, da Aeronáutica, e saiu ferido o jornalista Carlos Lacerda, alvo principal do crime encomendado por Gregório Fortunato, uma espécie de faz-tudo do presidente - terminaram com o suicídio de Getúlio.
     Hoje, a recusa da continência, em solenidade na qual o cumprimento não era estritamente obrigatório (os generais estavam providencialmente descobertos), mostra, sim, o desconforto com os acontecimentos envolvendo a criação da Comissão da Verdade e a insistência de grupos ligados ao Governo em escavar a história recente do país num processo classificado pelos militares - de ontem e de agora - como revanchista.

Um comentário:

  1. Uma correção que talvez amplie o simbolismo da não-continência: a cobertura já não é obrigatória há alguns anos, para efeito de continência. A saudação deve ser feita em qualquer circunstância.

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