Fica o dito pelo não dito

     A companheirada deve estar dando saltos de alegria. O embuste criado em torno do artigo escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre os rumos da oposição rendeu exatamente o que era esperado. Pessoas que não leram uma linha sequer - ou que leram com evidente intuito de manipular as ideias expostas - procuraram e foram procurados pelos sempre ativos e isentos jornalistas de plantão.
     Os colunistas amigos, então, se fartaram, ontem. Hoje, em O Globo, o assunto é minimizado. Um pequeno editorial em uma das páginas de política admite que o texto foi mal-interpretado, usado politicamente e conclui que o conteúdo é uma avaliação precisa do momento. E isso geralmente ocorre com os textos escritos por FHC (essa afirmação final é minha, e não do jornal).
     Como quase sempre acontece, a correção é praticamente ignorada. A maledicência, não. Essa, já cumpriu seu papel, com o inadmissível suporte de políticos oposicionistas, que também criticaram o que não leram ou entenderam, preocupados, apenas, em agradar e conquistar espaços na mídia. Com isso, atiraram nos próprios pés, como vêm fazendo nos últimos tempos.
     Esse episódio remete a outro, também envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique. Embora fartamente comprovado que a frase, como divulgada, jamais fora dita, até hoje há quem garante ter ouvido FHC dizer para esquecerem o que havia escrito no passado.
     Já ia esquecendo. O mais novo 'doutor de Coimbra' também foi ouvido sobre o que  Fernando Henrique não disse. É claro que deitou falação, provocando saudosos sorrisos cúmplices. É claro que não leu uma linha sequer do artigo. Mas seria exigir muito do doutor de anedota.