quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Combustível da empulhação

     Sempre que me atrevo a comentar algo que esbarre, mesmo levemente, na área econômica, procuro fazer a ressalva: é um terreno selvagem para mim. Nunca andei por suas trilhas, apesar das quase quatro décadas passadas em redações. De longe, admirava os conhecimentos de Ismar Cardona, Luizinho, Johnson, Angela Santângelo, Míriam Leitão, Tininha (*) e tantos outros jornalistas com os quais dividi os corredores do O Jornal, O Globo e Jornal do Brasil.
     Admirava - e continuo admirando - a capacidade que gente parecida comigo tinha e tem de desvendar equações e gráficos, antecipar crises, explicar subidas e descidas do dólar, avanços e recuos das bolsas. Eu, no máximo, consigo executar duas simples operações: somar os gastos e diminuir do salário. O resultado - para meu desconforto - é sempre negativo, ou tendendo a ser.
     Mesmo assim, assumindo minhas limitações, arrisco, eventualmente alguns comentários, especialmente quando o assunto fala diretamente ao meu bolso, semelhante em 'profundidade' ao da maioria absoluta da população. Mais recentemente, tenho mergulhado no absurdo preço dos combustíveis.
     O Globo de hoje mostra que eu estava andando no rumo certo, embora - em alguns momentos - por caminhos diferentes. Nossa gasolina está entre as mais caras do mundo, apesar da tal autossuficiência em petróleo, anunciada com fanfarras no último governo. O brasileiro paga o dobro, por exemplo, do que é cobrado nos Estados Unidos e na Rússia e mais do que italianos, franceses e japoneses. Só há doze países onde o combustível é mais caro, a maioria do absolutíssimo primeiro mundo.
     Se esses dados, por si só, não fossem suficientes para nos encher de vergonha, paira no ar da nova Petrobras a ameaça de reajuste no diesel e na gasolina, para acalmar acionistas. Importamos muito, alegam, com a candura de quem jamais anunciara a tal autossuficiência. Eu sei que ter petróleo não é sinônimo de gasolina nas bombas. Não temos capacidade instalada para o refino que nosso desenvolvimento exige. Mas foi essa ideia que me enfiaram goela abaixo.
     E não estou, sequer, falando do acintoso custo do álcool, resultado de investimentos em uma tecnologia mais limpa e com a cara do país, que não depende de perfurações, pré-sais e quetais. Quando lembro que o uso do álcool - por falta de estímulos, previsão e ganância  - é inviável há algum tempo, aumenta ainda mais a sensação de desconforto por ser obrigado a conviver com tanta incompetência e demagogia.

(*) Todos os citados são, ou eram, jornalistas da área econômica. E são citados como eram conhecidos por todos nós, muitas vezes por apelidos ou diminutivos carinhosos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário