quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pequenez ideológica

     Foi uma goleada. Daquelas de derrubar do roupeiro ao presidente. A página de Cartas de O Globo de hoje exibe, com clareza, pelo menos para mim, o que pensa o brasileiro médio, aquele que lê e compra jornais, que se interessa por política, que discute algo além do gol impedido. Nove a zero. É isso mesmo: nove cartas criticando abertamente o comportamento da presidente Dilma Rousseff na visita a Cuba, em relação às agressões aos direitos humanos perpetradas nessa ilha de miséria e ignorância.
     Não houve um comentário, sequer, defendendo as declarações absurdas da nossa mandatária; sua omissão face à prisão de dissidentes, pelo 'delito' do pensamento; à sua insensibilidade com relação às mães e viúvas do regime castrista; à sua medíocre comparação entre os atentados à dignidade humana na prisão de Guantánamo (existem, sim, e são alvo de denúncias da própria sociedade americana, a mais democrática do mundo) e a violência genocida desse anacrônico governo 'comunista'.
     Foi um desastre internacional, comparável às trapalhadas e às vergonhosas atitudes do governo de seu antecessor, conivente com o que há de pior no mundo, sempre disposto a rosnar para os Estados Unidos, como aquelas miniaturas de cão que mais parecem ratos de orelhas compridas. Nove a zero.
     Mas nem mesmo o repúdio interno e as reações de espanto das entidades internacionas foram suficientes para inibir a bobajada que se derrama do Planalto. Hoje, por exemplo, como nos conta O Globo, em sua página virtual, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho - aquele mesmo que é acusado, entre outras coisas, de ser o carregador das malas da propina paga pelas empresas de ônibus de São Bernardo ao PT, antes do assassinato do prefeito Celso Daniel -, saiu-se com essa pérola: "Tem que respeitar a autonomia".
     Vamos lá, só para colocar as ideias em dia: respeitar a automia para prender e condenar pessoas por discordarem do governo?; para deixar que morram, de fome, dissidentes?; de proibir seus cidadãos de ir e vir, livremente?; de condenar a população ao obscurantismo, censurando todos meios de comunicação e impondo a leitura do jornal único, do Partido? Autonomia para perpetuar a mais longeva ditadura familiar da nossa história moderna?
     É por motivos assim que esse Brasil, tão vigoroso economicamente, não consegue romper a barreira que nos separa do reconhecimento como nação de primeiríssimo mundo. País algum resiste incólume a onze anos de pequenez política, a esse complexo de vira-latas (como dizia Nélson Rodrigues) que marca nosso comportamento ideológico. Parceria, mesmo, só com as venezuelas (o regime, não o país, em si) da vida.

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