domingo, 26 de fevereiro de 2012

Subserviência ideológica

     Na falta de opções, o programa Painel, da GloboNews, comandado pelo jornalista Willian Waack, ajuda a passar a última hora dos sábados. Os temas são sempre atuais e, em tese, tratados por pessoas qualificadas, não-alinhadas ideologicamente, divergentes, mas normalmente bem informadas e com facilidade de expressão.
     Não foi, infelizmente, o que aconteceu ontem à noite, talvez por reflexo do carnaval. Imagino que tenha sido difícil para a produção encontrar pessoas mais bem qualificadas e disponíveis. O resultado foi o que se viu. Nem mesmo o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer conseguiu dar um tom seguro ao debate sobre o Irã e à ameaça de um conflito armado provocado pela insistência do país dos aiatolás em produzir uma arma atômica.
     O ex-ministro, embora afastado do cargo há muitos anos (era do Governo Fernando Henrique Cardoso), manteve aquele ar 'emcimadomurístico' que normalmente marca os diplomatas. Os dois outros convidados, dos quais não recordo o nome, pelo menos foram mais 'objetivos': desfilaram uma série de conceitos inimagináveis para apresentar o Irã como um pobre país cercado de inimigos por todos os lados.
     Um deles, uma pesquisadora, chegou a dizer que não acreditava que o governo iraniano tivesse algum propósito bélico, tendo em vista seu histórico. Esqueceu, confortavelmente, que o Irã atual, dirigido por radicais religiosos, não tem nada a ver com o de vinte anos atrás. O Irã do aiatolá Khameney e do alucinado presidente Mahmoud Ahmadinejad é, sim, um país terrorista, que prega a destruição pura e simples de Israel e patrocina atentados em todo o mundo. É, portanto, uma ameaça a todos nós.
     Internamente, o Irã é uma vergonha para o mundo civilizado. Além da leitura literal do Corão, que justifica, entre outras coisas, o apedrejamento de mulheres que tenham cometido adultério, exerce um controle inaceitável e arbitrário sobre a expressão política. Na prática, trata-se de uma ditadura religiosa pré-histórica, montada sobre enormes reservas de petróleo.
     Só mesmo uma enorme subserviência ideológica, um antiamericanismo de botequim, poderia justificar tamanha condescendência com um governo tão medíocre e atrasado como o iraniano.

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