sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Reféns das ideias sujas

     É claro que eu comungo com o alívio causado pelo reconhecimento da validade imediata da legislação que restringe o acesso a cargos eletivos a pessoas teoricamente idôneas - a chamada Lei da Ficha Limpa. Condenados por tribunais e punidos por entidades como a OAB e o CRM não mais poderão pleitear os votos de uma parcela enorme da população que exerce seus direitos sem o cuidado que seria exigível.
     Embora pessoalmente satisfeito com a depuração que a lei vai propiciar, não posso deixar de exibir meu inconformismo com um fato que parece passar ao largo das discussões: não há punição para porcalhões ideológicos, mentirosos contumazes e demagogos sempre de plantão.
      Sonho com uma legislação que puna não apenas os criminosos - digamos - comuns, aqueles punidos por atos, mas também os que assaltam a dignidade, estupram a verdade, tentam assassinar liberdades.
     Na minha utopia, o político que dissesse hoje algo divergente do que falou e defendeu no passado, quando era da situação ou da oposição, seria sumariamente afastado, por falsidade ideológica, um crime tão grave quanto um assalto direto aos cofres públicos.
     Bastaria apresentar a gravação de um discurso vagabundo na porta de alguma fábrica, estimulando vandalismos, e compará-lo com outro, no qual condena atos semelhantes aos que exortava. Ou uma diatribe contra privatizações, por exemplo, ao lado da defesa da venda de algum serviço público, anos depois.
     Enquanto os crimes ideológicos contra uma população desinformada, limitada culturalmente e dependente de benesses continuarem a ser executados, com a frieza exibida pelos grandes mafiosos, vamos continuar reféns de fichas e ideias sujas.

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