sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Falta dignidade em Brasília

     Quando eu, em tom desafiador, exijo isonomia no tratamento dado a todos os fatos, por parte do Governo Federal, não estou, apenas, sendo irônico. Eu gostaria, mesmo, de viver num país onde não vigorassem determinadas pilantragens, muito comuns - diga-se - nos últimos anos dessa nossa pobre república.
     Veja aborda um desses casos, na sua última edição: o impressionante depoimento de uma advogada, Christiane Araújo de Oliveira, sobre sua participação num bilionário esquema de fraudes perpetrado contra os cofres públicos, graças a seus estreitos e, ao que tudo indica, tórridos relacionamentos com o secretário-geral da Presidência, o ex-seminarista e ministro Gilberto Carvalho, e com o atual ministro do STF, Dias Toffoli, quando sua excelência ocupava o cargo de advogado-geral da União.
     A tal advogada, em depoimento formal à Polícia Federal, contou que conseguiu se infiltrar no Governo para favorecer uma espécie de máfia especializada em assaltar o dinheiro público. Chegou - nos conta a revista - a sacramentar a indicação de um dos quadrilheiros para cargos importantes no Planalto, graças, principalmente, à influência do - ficamos sabendo - íntegro ministro Carvalho.
     Está tudo lá, na investigação oficial da PF, inclusive suas transações com o ministro Dias Toffoli, envolvendo gravações feitas pela máfia para comprometer personagens da oposição. E há mais. Christiane contou, também, com detalhes, o que teria visto, ouvido e ... feito, nos cômodos mais íntimos do governo que vem se perpetuando há nove anos. De acordo com Veja, os detalhes chegam bem perto da sordidez.
     Apesar de tudo isso, de todas as safadezas explícitas, o depoimento da advogada foi suprimido, misteriosamente, das investigações oficiais sobre o desvio de dinheiro público. Nosso distinto público, com isso, ficou privado de conhecer determinadas intimidades do poder, constantes de gravações oficiais.
     Alguém poderia perguntar que critérios são esses, que possibilitam - com justiça - a divulgação das gravações das conversas telefônicas entre policiais baianos em greve e alguns políticos, e impedem que o mesmo aconteça com fitas formalmente gravadas pela Polícia Federal e que apontam para novos escândalos no primeiríssimo escalão do Governo? Confesso que não sei. A única resposta que me vem é simples e objetiva: essa gente que ocupou Brasília há nove anos não tem o menor compromisso com a dignidade.

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