sábado, 18 de fevereiro de 2012

O papel da presidente

     As recentes manifestações de representantes destacados do Governo, defendendo a reavaliação dos conceitos expressos na Lei da Anistia, já referendada pelo Supremo Tribunal Federal, aumentaram o desconforto entre os integrantes das Forças Armadas. Impedidos, constitucionalmente, de se manifestar, os oficiais da ativa claramente transferiram para seus colegas da reserva - em especial na direção dos clubes militares - a tarefa de demonstrar sua insatisfação.
     E essa insatisfação tomou a forma de um manifesto assinado pelos presidentes das três agremiações, o vice-almirante Ricardo Antonio da Veiga Cabral, do Clube Naval; o general-de-exército Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Militar; e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, do Clube de Aeronáutica.
     Segundo a nota, ao completar o primeiro ano do mandato, "paulatinamente vê-se a presidente afastando-se das premissas por ela mesma estipuladas. Parece que a preocupação em governar para uma parcela da população sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros", ressaltam os três oficiais da reserva.
     E passam a citar três momentos específicos dessa que eles consideram 'mudança de rumo'. Vamos a eles, literalmente:

     "Na quarta-feira, 8 de fevereiro, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos. Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E a presidente não veio a público para contradizer a subordinada.
     Dois dias depois tomou posse como ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, a Sra. Eleonora Menicucci. Em seu discurso, a ministra, em presença da presidente, teceu críticas exarcebadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega. A plateia aplaudiu a fala, incluindo a Sra. Presidente. Ora, todos sabemos que o grupo ao qual pertenceu a Sra. Eleonora conduziu suas ações no sentido de implantar, pela força, uma ditadura, nunca tendo pretendido a democracia.
     Para finalizar a semana, o Partido dos Trabalhadores, ao qual a presidente pertence, celebrou os seus 32 anos de criação. Na ocasião foram divulgadas as Resoluções Políticas tomadas pelo Partido. Foi dado realce ao item que diz que o PT estará empenhado junto com a sociedade no resgate de nossa memória da luta pela democracia (sic) durante o período da ditadura militar. Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bipartidarismo."

      Como podemos ver, há, ainda, muitas feridas abertas, dos dois lados. Talvez caiba à presidente Dilma Rousseff, ela mesma uma vítima de violências, colaborar para encerrar de vez esse ciclo de desconfiança, de desejo de vingança. Por sua história passada e pelo papel que desenvolve no presente, ninguém melhor do que ela para definir as bases de um futuro menos amargurado.

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