domingo, 5 de fevereiro de 2012

Armas não combinam com greves

     Talvez seja um resíduo imperceptível dos meus tempos de tropa, num momento em que a disciplina era exercida ao extremo. Até hoje, passadas quatro décadas das minhas experiências no Exército (aluno do CPOR-RJ e tenente R2 no antigo Regimento Escola de Infantaria, na Vila Militar, em 1967 e parte de 1968, anos particularmente difíceis para o Brasil e para mim), não consigo imaginar homens fardados fazendo greves, montando barricadas e enfrentando as autoridades constituídas, em ruas e praças públicas.
     Sei que os tempos mudaram, a sociedade evoluiu e o processo de democratização abriu novas perspectivas para o direito às reivindicações. Mas não me acostumo com a cena de militares, mesmo que sejam policiais, em especial, e civis fazendo piquetes, furando pneus de viaturas, abandonando cidades à sanha de bandidos. Talvez - admito - não haja outro meio de sensibilizar os governantes, mostrar a injustiça da remuneração, das condições de trabalho. Ainda mais quando lemos e ouvimos diariamente que nossos políticos ganham fortunas e ainda se envolvem em escândalos, recebimento de propina, chantagens, extorsões.
     Mas, nesses casos específicos, deve haver, sempre, outro caminho de pressão, de mobilização da sociedade. Não é admissível que um estado, como a Bahia, se veja refém da bandidagem, sob os olhares passivos de quem optou pela defesa dessa mesma sociedade. E fico muito à vontade para dizer isso, já que os baianos são governador por um dos próceres do PT, Jaques Vagner, a quem não reservo qualquer simpatia, como a seu partido, como um todo.
     A registrar, no entanto - nesse episódio lamentável que já provocou a morte de dezenas de pessoas e o caos na economia das cidades maiores, como a capital Salvador -, o comportamento em relação aos grevistas. Em situações semelhantes, como a que ocorreu há algum tempo aqui no Rio, policiais e bombeiros mereceram o indisfarçável apoio da cobertura dos fatos.
     Na Bahia, já começa a ficar clara a busca por explicações políticas para a greve, que teria componentes partidários (o líder foi, ou é, filiado ao PSDB, mas disputou uma eleição pelo PTC). Lá, trata-se de um proceso para desestabilizar o governo petista. Aqui, o exercício de um direito.
     Para mim, em todos os casos, houve uma perigosa quebra na disciplina. E quem usa armas precisa se disciplinado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário