quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A reação dos militares

     O texto do 'Alerta à Nação', divulgado hoje por uma comissão de líderes das Forças Armadas, embora na reserva, não deixa dúvidas: há, sim, uma enorme e quase intransponível barreira à frente da Comissão da Verdade, instituída para apurar, especificamente - o prazo mais longo (de 1946 a 1988) é apenas um jogo de cena -, os crimes que teriam sido cometidos por agentes do Governo durante o Regime Militar inaugurado em 1964.
     A suspensão do manifesto dos Clubes Militares, que denunciava um clima de revanchismo florescente no Governo - vem provocando reações ainda mais fortes não apenas entre os oficiais da reserva, mas na tropa, impedida, no entanto, de se manifestar, por questões legais.
      O título - 'Eles que venham. Por aqui não passarão' -, por si só um misto de afirmação e contestação, é uma referência explícita à frase da espanhola Dolores Ibarruri, que ficou conhecida como La Pasionaria, em discurso quando do início da Guerra Espanhola (É melhor morrer em pé, que viver de joelhos. Eles (os franquistas) não passarão"). Os nossos 'eles' são, não há dúvida, os que, dentro e fora do governo, têm demonstrado determinação em reabrir os casos soterrados pela lei de Anistia.
    
     Logo nos seus dois primeiros parágrafos, o 'Alerta' deixa bem claro que há unidade em defesa do conteúdo do Manifesto dos Clubes Militares censurado e no repúdio à interferência do ministro da Defesa, "a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazêlo". Simples e direto.
     O 'Alerta', que defende integralmente os pontos expostos no manifesto dos Clubes Militares, destaca, ainda no início, que é assinado "por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida."
     Abaixo, a íntegra do documento, que está colhendo assinaturas, rapidamente:

     28/02 - ALERTA À NACÃO

     "ELES QUE VENHAM. POR AQUI NÃO PASSARÃO!

      Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida. São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente.
     Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo.
     O Clube Militar é uma associação civil, não subordinada a quem quer que seja, a não ser a sua Diretoria, eleita por seu quadro social, tendo mais de cento e vinte anos de gloriosa existência. Anos de luta, determinação, conquistas, vitórias e de participação efetiva em casos relevantes da História Pátria.
     A fundação do Clube, em si, constituiu-se em importante fato histórico, produzindo marcas sensíveis no contexto nacional, ação empreendida por homens determinados, gerada entre os episódios sócio-políticos e militares que marcaram o final do século XIX. Ao longo do tempo, foi partícipe de ocorrências importantes como a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República, a questão do petróleo e a Contra-revolução de 1964, apenas para citar alguns.
     O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante, propugnando comportamento ético para nossos homens públicos, envolvidos em chocantes escândalos em série, defendendo a dignidade dos militares, hoje ferida e constrangida com salários aviltados e cortes orçamentários, estes últimos impedindo que tenhamos Forças Armadas (FFAA) a altura da necessária Segurança Externa e do perfil político-estratégico que o País já ostenta. FFAA que se mostram, em recente pesquisa, como Instituição da mais alta confiabilidade do Povo brasileiro (pesquisa da Escola de Direito da FGV-SP).
     O Clube Militar, sem sombra de dúvida, incorpora nossos valores, nossos ideais, e tem como um de seus objetivos defender, sempre, os interesses maiores da Pátria.
     Assim, esta foi a finalidade precípua do manifesto supracitado que reconhece na aprovação da Comissão da Verdade ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo.
     Assinam, abaixo, os Oficiais Generais por ordem de antiguidade e os Oficiais superiores por ordem de adesão."

2 comentários:

  1. Militares nao reconhecerem autoridade do ministro da Defesa eh indisciplina, se nao for motim. Jah vimos essa historia antes.

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  2. Recebi, de Paulo Carvalho, o comentário que reproduzo abaixo:
    A respeito da alusão que fiz, aqui no Blog, ao título do manifesto dos dos militares ('Eles que venham. Por aqui não passarão'), recebi uma justa e compreensível ponderação de um antigo e querido amigo, Paulo Carvalho, hoje na reserva. No texto, destaquei - com um jogo de palavras - a semelhança da frase com a exortação que simbolizou a resistência ao franquismo, proferida pela militante comunista Dolores Ibarruri, conhecida como La Pasionaria: 'Não passarão".
    Esse amigo não deixou passar. Um dos destacados oficiais da sua geração, oriundo da arma de Artilharia, foi direto e apaixonado, como podemos ler abaixo:

    "Pode até ser que essa senhora tenha proferido tal frase, mas muito antes dela, em 1866, na Batalha de Tuiuti, o grande Emílio Luiz Mallet, patrono da Arma de Artilharia, dirigiu-se assim aos seus soldados, exortando-os a defenderem a posição, protegida por um profundo fosso que mandara cavar, contra o ataque da tropa de Solano López, na Guerra do Paraguai. Além do mais, parece-me óbvio que os senhores que lançaram o tal manifesto não iriam buscar inspiração numa frase cuja autoria fosse de uma líder comunista, como La Pasionaria."
    A bem da História, está feita a ressalva.

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