quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vai encarar, Cristina?

     As ilhas Falklands (Malvinas, para os argentinos) jamais pertenceram, de fato, à Argentina que nós conhecemos. Ocupadas no início século 18 pela França e Inglaterra, parte delas foi comprada aos franceses pela Espanha, que - será que todos lembram? - dominava a 'metade' da América, graças a um tal de 'Tratado de Tordesilhas', firmado em 1494, entre as duas grandes potências marítimas da época (Portugal e Espanha), com as bênçãos do Vaticano, que intermediou as negociações.
     A Espanha, na época, não aceitou, a princípio, a presença inglesa, mas o conflito evoluiu para um acordo. Abandonadas, mais tarde as ilhas voltaram a ser ocupadas pelos ingleses. A Argentina que conhecemos hoje, independente (fazia parte do Vice-Reino do Prata), só decidiu reconquistar o território que fora espanhol por volta de 1827. Mas não ficou por lá muito tempo. Os ingleses voltaram a exigir seus direitos e estabeleceram a colônia, desde 1833. Essa é a verdade. Isso é história, o resto é proselitismo.
     Não há qualquer vínculo emocional entre as Falklands e a Argentina. Todos os seus pouco mais de três mil habitantes são descendentes dos colonizadores e, recentemente, fizeram um plebiscito em que se manifestaram unanimemente favoráveis à manutenção do vínculo com o Reino Unido. Ninguém quer ser argentino por lá.
     Pode-se alegar, em um debate eventual, que o território fica bem mais perto da Argentina do que da Inglaterra. E daí? É o resultado de séculos de história. O Acre não era brasileiro. O Uruguai (Província Cisplatina) já foi. E há as Guianas, felizes com sua relação com os seus 'donos'.
     A reativação do conflito é mais uma jogada de marketing político destinado a desviar a atenção dos problemas internos argentinos. Todos os regimes com viés autoritário tendem a eleger inimigos para, em nome de um nacionalismo diluviano, unir a população em torno de seus líderes.
     Os militares argentinos, execrados por todos, fizeram isso em 1982, e aconteceu o que todos nós sabemos. Hitler elegeu os judeus. Os romanos atiravam católicos aos leões. O general e ex-presidente Garrastazu Médici ia ao Maracanã de radinho de pilha ao ouvido. A fórmula é a mesma, mudam apenas alguns ingredientes.
     A Inglaterra, ao que tudo indica, não está dando a menor importância ao movimento deflagrado pela presidente Cristina Kirchner. Tanto que o príncipe Willians está chegando ao arquipélago, para um treinamento que vai durar seis meses. É como se a rainha Elizabeth estivesse dizendo: "Vai encarar meu neto?"

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