terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Grevistas do bem e do 'mal'

     Minha primeira reação foi desancar o ministro da Justiça (?), o petista de carteirinha José Eduardo Cardozo, defensor ferrenho dos mensaleiros e cuequeiros, quando exercia a missão de deputado federal. Não pelo teor da afirmação, mas pela absoluta e mais repugnante falta de coerência.      Segundo O Globo, ele afirmou que o governo não vai tolerar ações de vandalismos e crimes que 'estariam' (vou discutir esse tempo verbal, mais adiante) sendo cometidos por ordem dos chefes da greve da Polícia Militar em Salvador. Tudo o que ele e seu partido apoiam em São Paulo, por exemplo.
     Eu já disse e repeti que não consigo apoiar grevistas que vão para as ruas com arma na cintura. Há, para mim, categorias profissionais que, por opção, não podem usar determinadas opções de luta comuns a trabalhadores - digamos - 'convencionais'. E eu digo isso como alguém que participou de algumas greves, sim, com cunhos político e reivindicatório. Não poderia, por óbvio, ser contra greves, desde que esgotadas as discussões.
     Mas, no meio do caminho, decidi mudar o foco do texto, ao ler toda a entrevista com o preclaro ministro. É um exemplo pronto e acabado de como não fazer jornalismo, de engajamento. Basta avaliar algumas das 'perguntas':
     "É verdade que grevistas mataram moradores de rua em Salvador?"; "É verdade que grevistas apontaram armas para as pessoas e usaram ônibus como barreiras nas ruas?"; "A Polícia Federal vai prender os líderes grevistas acusados de cometer crimes?"; "Essas greves das polícias militares estão se tornando cíclicas e cada vez mais violentas? O governo tem alguma proposta de reforma estrutural das polícias?".
     Não é preciso ter trabalhado 35 anos em redações para ver que houve, na verdade, uma tabelinha, e não uma entrevista. O Globo levantava a bola para as cortadas certas do ministro. Uma parceria inconcebível, mas adivinhada, logo no começo. E aí eu me reporto ao uso do verbo estar, no condicional (futuro do pretérito), que induz à presunção que os grevistas 'estariam', de fato, cometendo crimes.
      Em síntese: grevistas de estados governados pelo PT são criminosos. Os de estados inimigos são pobres trabalhadores explorados. A assessoria de imprensa oficial do PT não produziria algo tão 'bom'.

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