quinta-feira, 19 de julho de 2012

Uma história da caserna

     Lendo o noticiário sobre os problemas para liberação de uma área em Deodoro, para instalação do novo autódromo do Rio de Janeiro, voltei aos tempos de 'caserna'. O 'gancho' para reavivar minhas memórias foi o fato de o espaço em questão ter sido usado para treinamentos militares, o que obrigaria a uma varredura completa, para eliminar a possibilidade de existirem explosivos, sobras de exercícios.
     Nós, da Infantaria (cursei o CPOR-RJ), também por lá andamos, eventualmente, mas nossos exercícios semanais de campo eram realizados em uma área de treinamento dos Fuzileiros Navais na praia de Tubiacanga, na Ilha do Governador. Semanais, mesmo. Todas as terças-feiras, o dia todo, com chuva ou sol. Vivíamos uma época difícil, em pleno regime militar, já com enfrentamentos, e o Exército decidiu que precisava formar urgentemente oficiais subalternos (aspirantes e segundos-tenentes da reserva para comandar pelotões) capazes de suprir e atender às necessidades mínimas.
     E o CPOR, risonho e franco, até então (frequentado por universitários apenas nas férias e fins de semana), mudou. Minha turma - a de 1967 (Turma Marechal Castelo Branco) - praticamente estreou o novo sistema. Um ano inteiro, sem folgas, exceto as naturais, dos domingos, repleto de exercícios e cobranças extremas. Um ano para não esquecer, incluindo o incidente que passo a relembrar, com vocês.
     O trabalho em Tubiacanga sempre exigia muito. Éramos, basicamente, obrigados a transpor obstáculos físicos e naturais, como áreas alagadas, barrancos, mato. Tudo isso, carregando um equipamento pesado, que incluía capacete de aço e o velho e aposentado mosquetão, substituído pelo - naqueles tempos - moderno FAL (fuzil automático leve).
     O tal do mosquetão merece um parágrafo à parte: além de pesado, dava um 'coice' enorme quando usado. Bem diferente do que acontece nos filmes de guerra. A cada tiro correspondia uma pancada no ombro. Se não estivesse bem encaixado, em um determinado espaço sob a clavícula, poderia provocar problemas sérios. Mas voltemos a Tubiacanga.
     Em um desses exercícios, deveríamos cruzar uma área alagada, 'sob fogo inimigo'. Por inimigo, leia-se nosso comandante (um certo capitão Blois) e sua equipe de sargentos-instrutores, que nos atacavam do alto de uma pequena elevação. Para dar a sensação de realidade, éramos atingidos por granadas de exercício, que explodiam, de verdade, levantando jorros de água, mas não causavam maiores problemas. Exceto ...
     E era dia do exceto. Um dos artefatos atirados em nossa direção caiu exatamente atrás de um aluno, por óbvio, o menos indicado para alvo. Desengonçado e lento, esse antigo colega ficou paralisado, quando deveria ter se atirado para a frente, mesmo na água. A granada explodiu e alguns estilhaços (pequenos) atingiram suas nádegas, por sorte bem roliças.
     Não houve maiores consequências, ainda bem, mas foi o sinal para a interrupção do treinamento naquele dia. Novas explosões - e elas aconteceram! -, só no campo de provas de Gericinó. Mas isso é outra história, para outro dia.

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