domingo, 22 de julho de 2012

Falta alguém no banco dos réus

     Faltará, sempre, alguém no banco dos réus do Mensalão. A presença de José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genoíno - referências históricas do PT - entre os 38 acusados de participar da maior roubalheira institucional já realizada nesse país não compensa em hipótese alguma a ausência do ex-presidente Lula, o maior beneficiário do esquema de assalto aos cofres públicos idealizado e executado em seu primeiro governo.
     Lula não pode, sequer, alegar que não sabia do que acontecia ao seu lado - tática que adotou ao longo de seus oito anos no poder direto, em todas as situações. Ficou provado, no caso do Mensalão, que ele conversou sobre tudo o que acontecia, pelo menos, em duas ocasiões: com o ex-deputado federal e presidente do PTB Roberto Jefferson, também réu e ex-comensal do Palácio; e com o ainda governador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás.
     Só o fato de saber do desvio de dinheiro público para pagamento de despesas de correligionários, de políticos da sua 'base' e campanhas eleitorais e não ter tomado providências já seria suficiente para levá-lo a julgamento. Mais: Lula deveria ter sido cassado, como se chegou a admitir na época da divulgação do escândalo, em 2005.
     Mas os sinais de sua participação não se limitaram a ter sido informado. O noticiário da época - e não faz tanto tempo assim, para ser convenientemente esquecido - destacou que o ex-presidente participou pessoalmente de um encontro, ao lado do falecido ex-presidente Jose Alencar, no qual decidiu-se o valor do suborno ao PL e o acerto da dobradinha para as eleições.
     Ele, Lula, teria ficado "na sala" da casa do então deputado Paulo Rocha, do PT do Pará. Foi nessa reunião - da qual teriam participado José Dirceu e Delúbio Soares (sempre eles ...) - que o PT pagou R$ 10 mihões ao presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, em um dos quartos da residência. O ex-presidente, é claro, não sabia de nada que estava acontecendo.
     Essa versão de inocência, defendida e montada, em 2005, pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz bastos (o advogado de nove entre dez bandidos ricos brasileiros, como Carlinhos Cachoeira), foi empurrada goela abaixo do país, temeroso do que poderia acontecer caso o presidente fosse destituído, como deveria ter sido. Até mesmo a oposição colaborou com essa farsa, a partir de determinado momento, ao não investir no processo de impeachment.
     Lula escapou, se disse traído, recuou, negou o escândalo, conseguiu se reeleger e eleger sua sucessora. Em nome da causa, entregou as cabeças de José Dirceu (que jamais deixou de cobrar - e bem caro - pelo sacrifício ao qual se submeteu) e Delúbio Soares, em especial. Delúbio, simplório e medíocre - um simples obreiro - aceitou o papel de único culpado, mas de um crime menor, o tal do "caixa dois que todos praticam".
     Por mais duras que sejam as penas impostas à quadrilha do Mensalão, no julgamento que começará em 10 dias, ficará sempre - em mim - a sensação de que faltará alguma coisa, a condenação de Lula. Um país que clama tanto pela verdade não tem o direito de omitir um dos momentos mais deletérios de sua vida pública.

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