segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre jornalismo e 'furos'

     O centenário Estadão poderia passar sem esse tipo de deslize. Reconhecer os méritos alheios é um caminho saudável para o bom jornalismo. Hoje, ao realizar uma 'releitura' da mais recente reportagem publicada em Veja, sobre o assassinato de Eliza Samudio cometido pelo ex-goleiro Bruno e vários comparsas (mais um trabalho diferenciado do jovem e ótimo repórter Leslie Leitão), o jornal resvala na borda de uma vala que é comum aos ressentidos.
     Segundo uma nova interpretação da carta que Bruno escreveu ao amigo e comparsa Luiz Henrique Romão o 'Macarrão', pedindo que ele assumisse sozinho a autoria do crime - o que fica claro na matéria de Veja -, o Estado tropeça principalmente em uma expressão: "na verdade". Então, a partir dessa constatação, tudo o que a revista publicou seria mentira ou, na melhor das hipóteses, uma inverdade.
     De maneira até simplória, o jornal 'compra' a tese do advogado de defesa do ex-atleta do Flamengo e afirma que a carta de Bruno a Macarrão refletia apenas o relacionamento homossexual que os dois mantinham, e não um pedido para que o companheiro admitesse sozinho o crime.
     Lamentavelmente, o Estadão me pareceu movido pela dor de ter levado um 'furo' em uma cobertura jornalística que vem mobilizando os meios de comunicação há dois anos. Eu sei - por experiência própria - que essa sensação incomoda. Estava no Globo, por volta de 1974, e fui designado para cobrir a Secretaria de Planejamento do governo Faria Lima, entregue ao então jovem e promissor Ronaldo Costa Couto.
     Não lembro exatamente (afinal, além de já se passararem 38 anos, tendemos a 'esquecer' certos momentos), mas fiz matéria afirmando que ainda não havia sido escolhido ocupante de um cargo importante qualquer. O Globo publicou, é claro. No mesmo dia em que o Jornal do Brasil anunciava nome e sobrenome do tal figurão, graças a um furo do repórter Luiz Paulo, que já não está entre nós.  
     Doeu, mas sobrevivi e consegui um jeito de informar nossos leitores, de maneira digna. Anos mais tarde estava de mala e cuia no JB, onde passei 18 anos da minha vida profissional. Contra fatos não há argumentos.

2 comentários:

  1. Infelizmente, para muitos coleguinhas, é assim que funciona... (Paulo Fernando)

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  2. É verdade, Paulo. Nós sabemos que incomoda - atire a primeira pedra quem jamais 'furado' -, mas não podemos punir o público pelos nossos erros. Alguns jornais e jornalistas tendem a demerecer o texto alheio, como defesa. No meu caso, nem que eu quisesse - e eu não quis, é claro: o cara que eu disse que não existia ainda estava lá, para assumir o novo cargo. Abraços.

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