sexta-feira, 20 de julho de 2012

Mamãe viu a uva

     Vamos falar sobre golpes constitucionais, vigarices com o apoio da lei. Mas daqueles que não provocam qualquer esgar nos companheiros, sempre dispostos a denunciar possíveis quebras do ritual constitucional. O exemplo mais recente de indignação contra uma atitude tomada absolutamente dentro da lei e com o respaldo dos poderes Legislativo e Judiciário ocorreu quando na destituição do ex-presidente Lugo, do Paraguai.
     Os intitulados defensores da moral ficaram horrorizados. Nossos dirigentes, então, chegaram ao paroximismo do ódio. O sucessor de Celso Amorim no Ministério das Relações Exteriores, Antônio Patriota (pobre Brasil!!!), uniu-se ao que há de pior na América do Sul e reviveu uma nefasta Tríplice Aliança contra o vizinho  mais pobre.  “Houve um golpe”, bradaram.
     Pois bem. Ontem, a ministra Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, apoiada ostensivamente pelo Governo quando concorreu a um lugar vitalício no Tribunal de Contas da União, deu sua colaboração a mais uma tentativa de se reduzir o escândalo do Mensalão a uma simples estripulia.  Ontem, em parecer, considerou legal o desvio de dinheiro do Banco do Brasil realizado pelo publicitário Marcos Valério, para beneficiar a companheirada.
    A douta ministra, de uma penada, fez a lição de casa, contrariou três pareceres técnicos elaborados pelo próprio TCU e a conclusão formalizada pelo Ministério Público. Com isso, a malandragem de Marcos Valério – apropriação de R$ 2,9 milhões - passou a ser legal e, por óbvio, tudo o que pode ter decorrido dela. Para chegar a essa conclusão, segundo nos conta a Folha, a mãe do provável candidato à Presidência da República em 2018 levou em conta uma legislação de 2010, apesar de o crime ter sido cometido em 2005.
     Tudo dentro da Lei, com o vemos. E sem causar a menor reação dos legalistas de botequim. 

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