quinta-feira, 26 de julho de 2012

Fica o dito pelo não dito. Mas nós sabemos a verdade

     Advogados, no exercício do seu papel, não deveriam ser entrevistados jamais. Por óbvio, não são fontes confiáveis. Mentir dentro de um limite que eles julgam 'aceitável' pela decência, deturpar e tergiversar são ações que fazem parte do roteiro de todos, o que não é de todo condenável. Afinal, usam os artifícios posíveis para absolver seus clientes, já que são pagos para isso. Alguns são regiamente pagos, como o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um dos mais bem aquinhoados advogados de porta de xadrez do país, aquele que defendeu e aconselhou o ex-presidente Lula e defende e aconselha o contraventor Carlinhos Cachoeira (os dois, vemos, têm muito em comum).
     O advogado Arnaldo Malheiros Filho, que representa Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT que administrou a roubalheira do Mensalão do Governo Lula, não seria diferente. Na tentativa quase final de livrar seu cliente de passar um bom par de anos atrás das grades, afirmou a O Globo que Delúbio - a exemplo dos criminosos contratados pelos chefões da Máfia e assassinos nazistas - apenas cumpriu ordens ao distribuir o dinheiro afanado dos cofres públicos entre a companheirada e assemelhados.
     Com isso - depreendi - estava tentando reduzir a culpa do seu cliente, distribuindo-a entre os demais gestores e próceres do PT, como José Dirceu e José Genoíno. O inusitado da tese - Delúbio, como bom obreiro do Partido, sempre assumiu toda a responsabilidade, alegando que fazia o que todos faziam - mereceu manchete e a principal página política de O Globo. Seria a confirmação do que toda a sociedade pensa: havia, sim, uma quadrilha assaltando os cofres públicos, como apontou a Procuradoria Geral da República.
     A alegria com os novos rumos que seriam abertos no julgamento (a minha, pelo menos) durou pouco, apenas o tempo de a notícia circular entre os cardeais do PT. No fim da tarde, o mesmo advogado desmentiu tudo o que dissera. Delúbio - vejam só! - fez tudo sozinho, sem o aval e o conhecimento do PT. Mas é claro que esse 'tudo' não é tão 'tudo' assim. No máximo o tal do caixa 2, crimezinho vagabundo (para os padrões brasileiros dos últimos nove anos e meio, é claro) que não mereceria sequer um par de palmadas, passados sete anos do assalto verdadeiro.
     Para o PT, controlar Delúbio não tem sido tarefa difícil. Ele é bem mandado. Suportou o ostracismo anos seguidos, sem reclamar. É verdade que sempre foi apoiado e jamais passou apertos financeiros. Mas apanhou quieto, sempre com aquela expressão bovina. Difícil tem sido segurar o publicitário Marcos Valério, o encarregado de esquentar o dinheiro que era retirado dos cofres da Nação. Delúbio, afinal, era um militante de carteirinha. Valério nunca foi e tem deixado claro que não vai aceitar passivamente uma condenação.
     Pelo bem desse país, devemos todos torcer por uma sentença exemplar. Talvez o homem - Marcos Valério - resolva contar tudo o que sabe.

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