sábado, 14 de julho de 2012

Presidente incorpora o passado

     Uma das raríssimas coisas que me faziam relevar, na presidente Dilma Rousseff, as inúmeras bobagens, impropriedades e falta de um projeto real para o país era seu comportamento diferente do adotado por seu criador e guru. Dilma, no primeiro ano de governo - um dos piores da história brasileira, repleto de escândalos e absolutamente paralisado -, ao menos manteve uma dignidade pessoal que caiu como uma bênção sobre um país soterrado pelo histrionismo de Lula.
     Comedida, embora desqualificada para a função, a presidente conferia ao cargo, ao menos, uma certa dignidade, um ritual. Como não sabe falar e tem evidentes dificuldades em coordenar logicamente os pensamentos, manteve-se mais tempo em silêncio público, ou limitava-se a ler os textos amorfos que seus asessores preparavam.
     Lula também não sabe falar, pelo menos corretamente. Mas, em virtude da falta do superego que ressalto sistematicamente, não se acanhava em cometer barbaridades retóricas e históricas. Na dúvida, lançava na plateia uma alusão ao futebol e estimulava a imbecilidade comum, com aquela expressão de quem descobriu a partícula elementar bosônica.
     A presidente, acuada por números alarmantes na economia e pela proximidade do julgamento do Mensalão (não podemos esquecer que ela fez parte do esquema de governo que praticou o maior assalto institucional aos cofres públicos, segundo a Procuradoria-Geral da República), parece que abandonou definitivamente a postura relativamente sóbria que vinha mantendo e subiu ao palco, à semelhança de seu antecessor.
     A cada dia, na última semana, Dilma Rousseff nos brindou com uma frase com defeito, um raciocínio tosco, um comportamento de 'senhora-propaganda' da rede Supermarkt (*). O que já era ruim - muito ruim, mesmo -, mas ligeiramente suportável, fugiu ao controle. Recorrer a expressões usadas por Lula e devidamente ridicularizadas por quem tem um QI superior aos três pontos atribuídos às galinhas, me parece ser o fim do caminho, o começo inexorável das trevas.
     O recurso à mediocridade retórica e às imagens expelidas pelos intestinos do serviço de marketing palaciano me soa a desespero. Sem projetos e perspectivas reais de crescimento, o país pode, eventualmente, acordar da letargia a que foi acometido nos últimos nove anos e meio dessa infindável e deplorável Era Lula.
     (*) Para quem não vive no Rio: a rede Supermarkt usa uma senhora - digamos - desinibida -um personagem "sem noção", diriam minhas filhas - para anunciar seus produtos populares.

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