sexta-feira, 27 de julho de 2012

Recuando os 'arfes'

     O conjunto de problemas que abala nossa economia já era esperado, principalmente em função da inércia governamental. O Brasil 'sentou no lucro' advindo do crescimento da China, em especial, e não olhou para os lados. Nunca se perdeu tanto em tanto tempo. Jogamos fora a chance de aplicar recursos concretos em infraestrutura para, assim, assegurar a competitividade da nossa indústria, o desafogo da agricultura (a melhor coisa desse país) e gerar crescimento.
     Jamais houve um projeto com princípio, meio e fim. As 'soluções', como se fossem mágicas, são retiradas de um arquivo morto de ideias e lançadas sobre o país, sem coordenação. Apenas com uma visão imediatista, limitada mesmo. A política cambial talvez tenha nos oferecido os exemplos mais claros da indefinição oficial. Até hoje o país se pergunta o que é melhor para nós, se o dólar lá em baixo (como esteve), ou nas alturas (como está).
     Com a ameça real de um crescimento pífio do PIB, a solução foi simplesmente incentivar o consumo, através da redução de juros e de renúncia fiscal. Só serviu para gerar um enorme contingente de inadimplentes, fruto de um endividamento acima da capacidade da população. O brasileiro passou a comprar, sim, mas não paga pelos bens. Essa conta, é claro, não poderia fechar.
     Hoje, nossos jornais destacam para uma medida definitiva do Governo: reduzir o valor da tarifa de energia - uma das mais caras do mundo!!! - para desafogar a indústria, que poderia produzir mais, a menor custo. Mas quem vai comprar a produção? O sujeito que já está endividado até o pescoço?
     Em Londres, nossa presidente deixou de lado, por alguns momentos, a pose que mantinha em relação à crise mundial e admitiu que o país "não é uma ilha". Mudou de ideia, como se vê. Há alguns meses, olhávamos a Europa e os Estados Unidos com a prepotência dos que se julgavam acima do bem e do mal. E ainda nos dávamos ao direito de dar lições de gestão às grande economias. Todos devem lembrar das aulas que Dilma ministrava, em entrevistas, à chanceler alemã Angela Merkel, saudadas com subserviência pela companheirada.
     O vocabulário não muito amplo da nossa presidente acaba de ganhar mais uma palavra - contracíclico - para explicar a falta de unidade e de projetos pensados a longo e médio prazos. As intervenções pontuais na economia foram batizadas de 'medidas contracíclicas'. Parodiando Neném Prancha (*), um personagem romanceado pelo jornalista João Saldanha e que dirigia um time de futebol de areia, eu diria que nossa presidente está apenas "arrecuando os arfes para evitar a catastre". Talvez seja tarde.
    
     (*) Segundo Saldanha, com quem trabalhei alguns anos na editoria de Esportes do Jornal do Brasil, o folclórico Neném Prancha teria proferido essa frase lapidar, ao ver a vitória de seu time ameaçada: "Arrecua os arfes para evitar a catastre ('Recuem os alfes - como eram chamados os jogadores do meio do campo, numa corruptela do inglês half - para evitar a catástrofe', em linguagem menos inculta)".

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