segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O drama venezuelano

     A situação vivida hoje na Venezuela é o exemplo clássico do mal que o culto à personalidade provoca nas sociedades e, por consequência, nos países. A última notícia sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez é desanimadora, como seria de se prever. Vítima de um câncer violentíssimo, o presidente certamente não terá condições de assumir o governo, agora, em janeiro. Talvez não consiga, sequer, voltar de Cuba, onde se submeteu à quarta cirurgia para tratar de doença.
     É, indiscutivelmente, um momento doloroso para a família e amigos do presidente. Mas ainda mais preocupante para as instituições venezuelanas, há muito tempo subjugadas e extremamente dependentes da presença física de Chávez. Ninguém pode prever, hoje, com absoluta certeza, o que vai acontecer no país com a possível morte do presidente que acaba de ser reeleito, embora a Constituição preveja todas as circunstâncias.
     O problema é que a vida na Venezuela é governada discricionariamente por Chávez, que se cercou de um grupo fiel para dominar todas as instâncias do poder e cultivar um ultrapassado personalismo, acima das leis e das instituições. A figura do homem Chávez é confundida com a Nação, subjugada.
     Aqui no Brasil, em circunstâncias até certo ponto semelhantes, vivemos recentemente (em termos históricos) um drama semelhante, com a morte do presidente eleito Tancredo Neves e a posse do vice, José Sarney. Embora recém-saído de um regime de exceção, o país conseguiu superar democraticamente o impasse. A morte de Tancredo foi muito sentida, não há dúvida. Mas as instituições deram sustentação ao novo governo.
     Na Venezuela, Chávez é o Governo, o grande aglutinador, o pai da Pátria, o Bolívar redivivo, imagem que ele claramente difundiu ao longo dos últimos 10 anos. Não há identificação com plataformas, com determinações políticas, até mesmo porque o venezuelano, em geral, vive um estágio cultural inferior a países como Chile, Colômbia, Brasil e até mesmo Argentina, que vem caminhando celeremente para o mais profundo atraso.
     É natural que os povos se identifiquem com líderes, especialmente carismáticos, como Hugo Cháverz e, no caso brasileiro Lula. Mas é uma situação extremamente perigosa, pois submete a consciência das Nações aos desígnios e personagens que acreditam estar imbuídos de missões divinas. E que alimentam essa distorção para se manter - e aos seus - no poder.

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