quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Blindagem com prazo de vencimento

     Uma das expressões mais usadas nessa lamentável e inescrupulosa Era inaugurada em 2003 é "blindagem". Há sempre alguém da companheirada blindando alguém da turma, ou algum assecla pego em flagrante delito (o mais comum é o roubo). O mais blindado de todos, sem a menor dúvida, tem sido o ex-presidente Lula, direta ou indiretamente. De alguma maneira, ele vem conseguindo passar relativamente incólume por uma sequência aterradora de escândalos.
     Do assalto aos cofres públicos chefiado da sala ao lado da sua, no caso do Mensalão, à recente descoberta do envolvimento em pilantragens da sua acompanhante extraoficial em viagens internacionais, Rosemary Nóvoa, ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo.
     Embora fosse impossível imaginar que o ex-presidente ignorasse o escândalo da compra de políticos e a distribuição de benesses entre agentes petistas, ele conseguiu livrar-se do julgamento que condenou seus comparsas mais próximos à cadeia. Nesse caso, montou-se uma enorme estrutura para evitar seu indiciamento. Nos escândalos seguintes - e foram muitos -, a mesma coisa: entregar a cabeça de um ou dois meliantes, em troca do perdão ao chefe.
     É o que está acontecendo novamente, com a divulgação dos fatos envolvendo Rosemary Nóvoa. Uma blindagem tão indecente quanto a promiscuidade que se adivinha. A primeira e enorme preocupação da companheirada é evitar a exposição da ex-chefe de gabinete de Lula. O Governo fez e continua fazendo todo o possível para manter todos de boca fechada. Teme-se, em Brasília, que um eventual depoimento de Rosemary possa desencadear uma crise talvez incontrolável.
     Poucas pessoas no mundo teriam, por exemplo, a capacidade exibida pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, que assumiu todas as culpas - e irá para a cadeia por isso. Rosemary, pelo que se pode deduzir de tudo o que sabe do seu comportamento, não resistiria a cinco minutos de interrogatório. Por isso, tanta gente demonstra preocupação com ela, com seu destino.
     Pode ser, até, que essa tática funcione por algum tempo, nessa fase de indiciamento. Mas a perspectiva real de ser presa pode mudar, num futuro não muito distante, essa realidade, e a turma do poder sabe disso. Assim como aconteceu e acontece com o publicitário Marcos Valério, Rosemary vem sendo poupada de críticas ou comentários pela companheirada, determinada a empurrar a sujeirada com a barriga, até o limite possível.
     No caso do Mensalão, o limite está muito próximo. Marcos Valério não vai se livrar dos 40 anos de condenação, apesar dos esforços dos ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski. E é aí que mora, de fato o perigo. Os quadrilheiros atuais ainda estão longe do julgamento. Mas ele virá, inexoravelmente. Por enquanto, a blindagem dará resultados. Daqui a dois ou três anos, talvez seja perfurada pelas revelações de mais esse escândalo.
     Poucos deram muito atenção ao Mensalão, até por que a maioria não entendeu bem o mecanismo. Mas todo mundo entende com facilidade um enredo que envolve, além de corrupção e indicação de comparsas para cargos importantes, a relação entre chefões e secretárias.

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