quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Goleada da demagogia

     Tenho escrito há algum tempo que uma das marcas desses tempos lamentáveis é a mais vagabunda demagogia. Tive hoje mais uma confirmação dessa certeza. A partir de janeiro, os jogadores (ou seus familiares, no caso de morte) que conquistaram os mundiais de 1958, 1962 e 1970 passarão a receber, mensalmente o valor máximo da aposentadoria paga hoje pelo Ministério da Previdência Social: R$ 3. 916,20, além de um 'prêmio' de R$ 100 mil.
     Os argumentos são os mais canhestros e apelam ao mais boçal sentimentalismo, destacando que o "povo brasileiro reconhece essa 'dívida'" e que "o Brasil não pode conceber que aqueles que elevaram o nome do país passem por dificuldades". Pura vigarice retórica. O Brasil não pode conceber - isso, sim! - que qualquer um que tenha trabalhado dignamente por cerca de 40 anos receba uma aposentaria indigna e mal consiga sobreviver. Não apenas ex-atletas.
     Não tenho cada contra nossos campeões. Ao contrário. Quase todos os atingidos pela benesse com o bolso alheio - o de todos nós! - foram meus ídolos, em maior ou menor escala. Mas não existe a menor justificativa legal para que sejam tratados de forma especial. Jogavam futebol, e muito bem, como milhões de trabalhadores executavam suas tarefas de forma irretocável. Em algum momento, tiveram muito mais do que qualquer um nas mesmas condições.
     É verdade que os salários de então não se comparam aos pagos atualmente a jogadores de menor evidência. E daí? Nenhum operário daquela época ganhava o que é pago aos atuais. É a típica decisão tomada de olho na repercussão nas colunas de jornais, com a certeza dos aplausos, como determinados e esperados textos de alguns luminares da comunicação. Afinal, somos o país do futebol e, cada vez mais, da demagogia.

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