domingo, 16 de dezembro de 2012

A cultura do malfeito

     A constatação está no O Globo: a Proteste - Associação de Consumidores realizou uma pesquisa em bares e restaurantes do Rio e de São Paulo e constatou que 42% deles cobraram por chopes que não foram pedidos, além de erros na taxa de serviço constante da nota fiscal. Com absoluta certeza, posso garantir que não é uma novidade, a exceção que consolida a regra. Ao contrário. Essa é a regra, especialmente nessa nossa 'muy leal' cidade do Rio de Janeiro.
     Rouba-se tudo e em tudo, aqui na Cidade Maravilhosa. E não estou me referindo a grandes assaltos, aqueles de que incorporam violência física. Pois nesses nós somos quase imbatíveis. Estou me fixando nos crimes comportamentais, que fazem parte da 'cultura carioca'. Os taxistas assaltam viajantes incautos; garçãos acrescentam produtos na conta; desocupados loteiam as ruas; ladrões baratos carregam cabos telefônicos e bueiros; espertalhões instalam gatos nos cabos de tevê por assinatura.
     Multidões se aproveitam de acidentes de trânsito para saquear cargas e bolsos de feridos ou mortos. Nos mercados, os preços são ajustados para cobrir os roubos realizados por clientes. Uvas, pães, doces, nada escapa à sanha assaltante. Para ser justo, no entanto, devo admitir que essa não é uma característica só nossa. É coisa nacional, brasileira, como a jabuticaba e o guaraná.
     E talvez esteja nesse perfil a explicação para a quase conivência do nosso povo varonil com o malfeito e, em especial, com os malfeitores. Quando lê ou escuta que um desses quadrilheiros petistas assaltou os cofres públicos, muita gente - muita, mesmo! - não se abala, estranha, repudia. É a turma que, lá no íntimo, sabe que faria a mesma coisa, se tivesse chances.
     E esse raciocínio vale tanto para os coniventes com os roubos comuns, quanto para os sensíveis às - digamos - 'expropriações de cunho político', aquelas destinadas a pagar contas do partido, festas, comprar meia dúzia de deputados, garantir a eternização no poder.
     Não por acaso lideramos ou estamos bem colocados em todas as pesquisas sobre corrupção. A percepção que o mundo decente tem de nós e que somos naturalmente depravados, há muito tempo. Uma percepção que deve ter dado um salto, com a repercussão das notícias recentes sobre o envolvimento do ex-presidente Lula e seus assessores diretíssimos em escândalos inomináveis.
     E que deve explodir com a constatação de que ele - o inimputável - e sua sucessora (a presidente do maior número de escândalos de toda a história republicana) lideram, impávidos colossos, com folgas, qualquer corrida para o Palácio.

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